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22/11/2024

EDUCAÇÃO

Com projeto de iniciação científica em escola estadual, professores formam novos pesquisadores e compartilham sonhos

02 de dezembro de 2015 | Governo do Estado de Rondônia

Ederson: o desafiou de educar e formar pesquisadores numa região pobre

Ederson enfrenta o desafio de educar e formar pesquisadores numa região pobre

Foi com a criação do Grupo de Iniciação Científica que a Escola Estadual Ulisses Guimarães passou a inovar, produzindo adolescentes pesquisadores que não cansam de surpreender, apresentando propostas novas para velhos problemas. Os candidatos são selecionados a partir de edital publicado internamente. É assim que surgem os novos talentos de Rondônia.

Os protagonistas desse ambiente, onde as transformações acontecem, são servidores, alunos, pais e a comunidade do entorno. Saiba mais sobre alguns deles.

A banca, formada por três professores, avalia, em entrevista individual, os alunos inscritos. São levados em consideração as aptidões para o trabalho nas três vertentes dos projetos da escola (parasitologia, engenharia de materiais e meio ambiente).

De grupos de 40 inscritos, pode ser que 20 cheguem à final, mas isso é comum, na avaliação dos professores que conduzem o processo de seleção e acompanham as atividades.

O irrequieto Ederson Rodrigues de Souza, professor de geografia, também está à frente da seleção interna de handebol e do jornal que noticia os acontecimentos do ambiente escolar. Esse gaúcho que está envolvido no mestrado cursado na Universidade Federal de Rondônia (Unir), utiliza a empreitada com os estudantes na área de saneamento e hidráulica como linha de seu trabalho.

“Aqui criamos pesquisadores que constroem currículos que serão úteis futuramente”, afirma, completando que “alguns alunos focam as viagens para fora do estado como conquistas. Mas digo a eles que os trabalhos é que os levarão para estas viagens. Serão prêmios que agregarão outros benefícios, como conhecer pessoas diferentes e novos conhecimentos para enriquecer as pesquisas”.

Na avaliação do professor Marconde Souza, da disciplina de biologia, a equipe consegue abrir perspectivas para crianças numa região onde isso é um desafio. “É comum o aluno dizer que vai encerrar os estudos ainda no Ensino Fundamental. É compreensível. Nós mostramos que é possível transformar realidades e ter um futuro diferente do que é comum nesta região”, diz.

E não faltam casos para ilustrar a afirmação de Marconde. Uma aluna, por exemplo, anunciou que, após concluir o Ensino Fundamental, casaria e teria filhos, afinal, não havia outra perspectiva para pessoas como ela no bairro. Após algum tempo envolvida nos projetos de pesquisa, revelou que queria algo mais, e se comprometeu com voos mais audaciosos no ramo da ciência, conta o professor.

Há casos também como o do menino que abandonou o grupo de infratores, com o qual estava envolvido, para se empenhar mais nos estudos. Exemplos como os que contam os professores não faltam na escola.

EXOPLANETAS 

Mas o registro mais emblemático neste universo de periferia é o da aluna que chegou para o professor dizendo que queria estudar exoplanetas, que são planetas que orbitam uma estrela que não seja o Sol e, consequentemente, estão em sistema planetário distinto do nosso. A adolescente voltou a surpreender quando se propôs a criar, com meios próprios, uma luneta. E fez sucesso quando cumpriu a promessa e mostrou um engenhoso objeto feito com tubos e um aparelho celular.

Professor Marconde: ensinamos a superar barreiras para chegar a novas conquistas

Professor Marconde: ensinamos a superar barreiras para chegar a novas conquistas

Nos projetos científicos, os professores trabalharam na construção de uma caixa d’água autolimpante, que utiliza objetos do cotidiano para higienizar e tornar os recipientes aptos para o uso doméstico ininterrupto. O mecanismo é composto de paletas e escovas. O invento ainda pode oferecer mais vantagens, mas a falta de dinheiro fez com que fosse deixado apenas neste estágio.

A água limpa ainda é um problema nos bairros próximos. A comunidade acostumou-se a abastecer vasilhames no bebedouro da escola. Uma pesquisa feita pelos alunos esclareceu que isso ocorria pela confiança que os moradores tinham no produto que era oferecido aos alunos. A outra razão é a economia, uma vez que a maioria não tinha dinheiro para comprar água mineral no comércio da região. Para continuar atendendo às famílias a opção foi instalar uma torneira para o lado de fora do muro. E a integração escola/famílias segue fortalecida.

Ensinar, mobilizar estudantes para tarefas escolares e, mais ainda, fazer com que se empenhem mesmo nos fins de semana e feriados é tarefa que os professores abraçam com determinação.

“Ajudamos a criar desejos novos neste ambiente. Mostramos que a ciência da biologia é experimental. Pode ser testada no dia a dia. O que se estuda na sala de aula não é surreal, mas faz parte do cotidiano”, atesta Marconde.

Ele também ensina que a escola não determina o fim de cada projeto. Os alunos podem propor outras linhas de pesquisa. “Eles estão sempre à frente do nosso ritmo”, admite Ederson. “Se tudo dependesse deste grupo, os meninos já estariam patenteando produtos”, acrescenta.

Uma das razões para compreender tanto interesse em produzir pode estar no fato de que os alunos sabem que o conhecimento adquirido pode transformar a realidade da comunidade onde vivem, provocando mudança na qualidade de vida. E isto eles conferiram pessoalmente quando realizaram pesquisa domiciliar fazendo questionamentos sobre problemas do dia a dia das famílias.

BOCA DE LOBO

O projeto Sistema de ‘Microdrenagem – Boca de Lobo Inteligente’ é o resultado destas intervenções pedagógicas junto à comunidade. Basicamente, os estudos levaram à construção de um mecanismo simples, com caixa metálica e hélices, que retêm detritos das enxurradas, que são lançados para fora dos esgotos. Desta forma, o crônico problema das alagações que afetam centros urbanos do mundo inteiro podem ser resolvidos. O mecanismo utiliza a força da água das chuvas para funcionar.

 

“Não rouba ele, é meu professor. Não tem dinheiro, só ideias”, relato do professor Ederson de Souza, que ouviu a frase enquanto esperava o ônibus em um ponto próximo à escola.

 

Marconde admite que o projeto não está acabado, pois faltam recursos para dar sequência às pesquisas. Mas isso não abala o entusiasmo do professor. “Diante de obstáculos como este, os alunos chegam a questionar para saber se vale a pena continuar. Eu digo que sim, que devemos buscar alternativas e eles entendem”.

No caso do projeto “Boca de Lobo inteligente”, ainda há muito o que fazer. Faltam materiais resistentes para provar que o mecanismo funciona. Mas, uma parte dos estudantes já pensa em outra etapa: reaproveitar a água que passa pelo esgoto e devolvê-la devidamente limpa às residências.

Ederson trabalhou na escola em 2005. Gaúcho de São Borja, veio para Rondônia para trabalhar em outra área. Como professor, passou uma temporada num estabelecimento em Candeias do Jamari, uma região pobre também. “A diferença é que lá, com toda pobreza, volta e meia alguém traz uma fruta, uma galinha, para agradar o professor. Aqui, as pessoas não têm sequer perspectivas, não têm o que dar. Então, o desafio é maior”, pondera.

Para o mestre, a oportunidade de trabalhar numa região com mais problemas para resolver é um atrativo. Ele recorda que um dia aguardava o transporte público quando percebeu um grupo de adolescentes que tramava um roubo. Também ouviu quando um estudante aparteou os parceiros. “Não rouba ele, é meu professor. Não tem dinheiro, só ideias”.

SELFIES

Marconde é biólogo. Nasceu em Porto Velho e só estudou em escolas públicas. É ele quem conduz o grupo responsável pelo projeto o ‘Enteroparasitas de importância médica isolados de baratas capturadas no ambiente escolar’, que é mostrado em Olinda (PE). Diz que a etapa da pesquisa e análise do material recolhido apresentou percalços em razão da falta de laboratório. “Ainda não concluímos. Mas não falta entusiasmo ao grupo”, avalia.

A produção de um antibiótico para fazer frente às doenças transmitidas pelos parasitas transmitidos pelas baratas é uma frente sugerida por um aluno. “Ele fez pesquisas na internet e apresentou um questionamento lógico: se as baratas convivem com os parasitas, por que não adoecem. Será que tem alguma defesa bacteriológica?” A partir, daí a equipe começou a se mobilizar para iniciar estudos sobre os fluidos dos insetos e elaborar a próxima etapa das pesquisas.

Ederson e Marconde formam, com outros professores, um grupo admirado, com quem os alunos disputam uma “selfie”. Dentro das escolas se tornaram referência. Alimentam, com a diretora Cláudia Regina, uma fábrica de sonhos, mas mergulham com os alunos na onda que pode transformar cada fantasia em uma grande e promissora realidade.

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Fonte
Texto: Nonato Cruz
Fotos: Daiane Mendonça
Secom - Governo de Rondônia

Categorias
Educação, Rondônia, Tecnologia


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