Governo de Rondônia
17/07/2024

VIGILÃNCIA EM SAÚDE

Agevisa realiza investigação ecoepidemiológica de agressões por morcegos em reserva indígena no município de Espigão D’oeste

25 de março de 2022 | Governo do Estado de Rondônia

Morcego hematófago da espécie Desmodus rotundus capturado durante a visita da Agevisa na Reserva Roosevelt

A coordenação do programa de vigilância e controle de quirópteros, da Agência Estadual de Vigilância em Saúde (Agevisa), do Estado de Rondônia, realizou trabalhos de investigação de agressões por morcegos, captura, controle, coleta de material para exame laboratorial e ações de educação em saúde, na Reserva Roosevelt ocupada pelos indígenas Cinta-Larga. A reserva de propriedade da União, fica localizada no sul do estado de Rondônia, no município de Espigão D’Oeste, distante 580 Km de Porto Velho, capital do Estado.

Os trabalhos foram realizados após notificações por meio de ligação telefônica e oficio do Distrito Sanitário Especial Indígena do Ministério da Saúde (Dsei/MS) do município de Vilhena, no início do mês de dezembro de 2021, informando sobre quatro agressões por morcegos a indígenas da reserva, e que as lesões apresentadas eram compatíveis com as praticadas por morcegos hematófagos.

Na oportunidade foram repassadas orientações aos técnicos da saúde indígena da Casa de Saúde Indígena (Casai) de Cacoal, para que fosse realizada uma investigação epidemiológica das agressões, providenciando o encaminhamento das pessoas agredidas à unidade de saúde para avaliação médica e, caso indicação, iniciar o tratamento profilático antirrábico humano.

“Foi dito ainda que fossem disponibilizados, aos moradores das aldeias, mosquiteiros como meio de proteção noturna contra os ataques dos quirópteros hematófagos. E, também, que observassem se os animais domésticos e de produção [cães, bovinos, equinos, suínos, aves, etc] apresentavam agressões compatíveis com as mordidas dos morcegos hematófagos” – explicou o coordenador do programa na Agevisa, médico veterinário, Antônio Salviano de Matos.

“O governo disponibilizou a equipe técnica que foi solicitada formalmente pelo departamento indígena de Vilhena para garantir a vigilância em saúde da população da reserva, apoiando as equipes de saúde local com estratégias de prevenção dos agravos provocados por morcegos, procedendo a investigação, o cadastro de abrigos, capturas, coleta de material e ação de educação em saúde na comunidade atingida” – disse o diretor-geral da Agevisa, Gilvander Gregório de Lima.

AÇÃO NA COMUNIDADE

Agevisa realizou reuniões técnicas e educativas de assistência a comunidade

Após uma breve reunião em Cacoal, a agência em parceria com os órgãos afins: II Gerência Regional de Saúde (II GRS Cacoal), Unidade de Vigilância de Zoonoses (UVZ Cacoal), Casa de Saúde Indígena (Casai) e Distrito Sanitário Especial Indígena (Disei/MS), definiram as estratégias de atuação no controle populacional do morcego hematófago Desmodus rotundus. Os trabalhos foram executados na aldeia Roosevelt, localizada no Município de Espigão D’Oeste-RO, no período de 18 à 23/12/2021 a primeira ação, e de 06 à 11/03/2022 a segunda ação.

“De Espigão D’Oeste até a reserva são mais 80 quilômetros de estrada sinuosa, por um terreno acidentado e cheio de pedras. Apesar de reparos recentes, o trajeto, que dura cerca de quatro horas, é penoso. Em dias de chuva, alguns trechos da estrada de terra argilosa vira um sabão. A situação fica pior, de acordo com os moradores da região. Tal relato se faz necessário para demonstrar a existência de reais dificuldades da população local para buscar atendimento médico, principalmente se for urgente, em razão de que no posto de saúde da aldeia são feitos apenas atendimentos básicos” – relatou o coordenador do programa da Agevisa.

As informações iniciais, fornecidas pelos técnicos da Casai/Disei/MS mencionam seis indígenas agredidos por morcegos e as agressões começaram em meados de novembro de 2021. “Informaram também a agressão a alguns animais de criação. Pela conversa mantida com os dois técnicos, concluímos que as agressões as pessoas não eram diárias e nem intensas, ocorrendo esporadicamente. Nossa experiência indicava também que todos os 06 (seis) indígenas foram atacados pelos mesmos morcegos nesse curto espaço de tempo, devido as agressões serem recentes”, disse Salviano.

SOLUÇÃO

Durante a visita técnica foram realizadas vistorias pela aldeia para conhecer e selecionar possíveis locais para o trabalho noturno, ações de investigação de agressões, cadastro de abrigos, capturas dos morcegos com armação de redes e tratamento com pasta vampiricida dos morcegos hematófagos da espécie Desmodus rotundus, coleta de material dos morcegos para exame laboratorial visando observar a circulação do vírus rábico e ações de educação em saúde, com o objetivo de esclarecer aos moradores da aldeia os riscos para a saúde que representam as agressões por morcegos aos seres humanos.

Foi explicado que os morcegos, de acordo com a espécie, adotam hábitos alimentares diferentes, mas independente da dieta alimentar qualquer espécie de morcego que esteja contaminado com o vírus da raiva é passível de transmitir a doença. Os técnicos da Agevisa alertam que nos casos de agressões por morcegos é necessário lavar o ferimento com água corrente e sabão, e procurar, com urgência, a unidade de saúde mais próxima para que seja feita uma avaliação médica.

Dentro das medidas de prevenção nas aldeias os técnicos alertam que é necessário melhorar a infraestrutura das moradias dos indígenas, eliminando as frestas e outras aberturas que possam permitir a entrada dos morcegos para o interior das residências; criar o hábito de manter lamparinas acesas no interior das casas, após o corte do fornecimento de energia elétrica, pois a luminosidade inibe a entrada dos morcegos; distribuir e incentivar os indígenas a usar mosquiteiro uma vez que, além de protegê-los contra os insetos, transmissores de malária, leishmaniose e outros, protegem também contra os ataques dos morcegos hematófagos. A malha da rede impossibilita o morcego de aplicar a mordedura alimentar.

MUDANÇA DE AMBIENTE

Antônio Salviano, atribui os ataques as mudanças ambientais nas aldeias

No estado de Rondônia, pela segunda vez em área de reserva indígena foram encontrados registros de agressões em uma quantidade elevada por morcegos hematófagos em pessoas. A primeira foi na aldeia Central Karitiana, no ano de 2004, e a segunda, trata-se da aldeia do Roosevelt.

Os agentes sanitários relatam que um hábito que certamente favoreceu os morcegos foi a de criação de animais, como galinhas, suínos, cães e outros animais domésticos, e é possível que esse fenômeno tenha sua causa no fato dos indígenas passarem a ter uma vida menos nômade, com fixação de residência após a demarcação de suas terras.

Segundo o coordenador a combinação desses novos hábitos deve ter interferido positivamente no aumento da população de morcegos hematófagos. “Desse modo, deduz-se que os ataques dos morcegos hematófagos são consequências do atual modo de vida dos indígenas da Reserva do Roosevelt” – conclui o coordenador a Agevisa.

Estudos mostram que morcegos hematófagos são espécies raras em florestas tropicais não alteradas pelo homem, matas primárias, e esses morcegos são topo de cadeia alimentar e ocorrem numa frequência mínima.


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Fonte
Texto: Aurimar Lima
Fotos: Antonio Salviano
Secom - Governo de Rondônia

Categorias
Governo, Rondônia, Saúde, Serviço, Sociedade


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