APLs
26 de julho de 2019 | Governo do Estado de Rondônia
Apesar do potencial de Rondônia ser uma realidade em âmbito nacional, o tema dos Arranjos Produtivos Locais (APLs) nunca foi o centro do debate nas políticas de desenvolvimento regional do Estado. Mudar essa realidade é o objetivo da Superintendência de Desenvolvimento Econômico e Infraestrutura (Sedi), em parceria com o Instituto Federal de Rondônia (Ifro), que realizou neste mês o 1º Workshop de Arranjos Produtivos Locais.
O primeiro desafio foi explicar o que era um arranjo produtivo local. Keila de Oliveira, por exemplo, é estagiária no governo de Rondônia, mas chegou no evento sem saber exatamente o que era um APL. “Meu objetivo principal, aqui, é adquirir conhecimento. Há pessoas de vários lugares do estado, e com várias formações. Creio que vou sair daqui com mais propriedade para discutir esse assunto e poder ajudar no meu trabalho”, disse a Keila antes do evento começar.
O desconhecimento do público não é surpresa, dado o histórico de Rondônia na discussão do tema. Apesar de existir uma política oficial e um núcleo de apoio criados por meio do decreto estadual nº 13.666 de 16 de junho de 2008, pouco se avançou na discussão depois de 2013, quando foram reconhecidas 13 APLs no estado.
Por isso que no primeiro dia Marcus Cardoso, coordenador de micro e pequenas empresas da Sedi, começou explicando o que é um APL para uma parte do público ainda não familiarizado. “APLs são conjuntos de empreendimentos de um mesmo setor produtivo, localizados geograficamente próximos, com especialização produtiva. Então, por exemplo, vamos imaginar uma APL do leite. Tudo começa com um pequeno produtor que tira o leite. Daí tem outro que tem a base industrial, para pasteurizar o leite. Depois outro cuida do transporte, até chegar à comercialização. Além disso, as universidades podem entrar com pesquisas para aumentar a qualidade do leite, o governo pode entrar fomentando com incentivos. Temos aqui um exemplo simples de APL”, explicou Marcos.
Ou seja, um APL acaba sendo mais do que uma cadeia produtiva. Em uma cadeia produtiva comum linear, desde a extração até o consumidor final. Em um APL entra não apenas os produtores naturais dessa cadeia, mas também outros produtores, universidades, governo, legislativo, associações, institutos, cooperativas, casas culturais, dentre outros atores.
A complexidade de um APL é o que fez a Maria Goreth Reis, pró-reitora de extensão do Ifro, constatar, em suas falas no evento, que o arranjo local não é apenas a questão produtiva, mas também a questão cultural e social. “Os arranjos se formam geralmente associados à trajetória histórica de construção da identidade de um povo, vinculada a uma base social, cultural, política e econômica em comum”, constanta Maria Goreth, que defende que é preciso pensar na igualdade social e na sustentabilidade ao planejar o desenvolvimento regional.
Quem exemplifica essa realidade é uma empresa rondoniense, a Saboaria Rondônia. Na zona rural de Ouro Preto do Oeste. Mereilde Freire faz parte de uma iniciativa de mulheres que entram na floresta amazônica para buscar frutos e extrair óleos com o objetivo de criar produtos artesanais com ‘o cheiro de Rondônia’.
“Usamos como carro chefe os óleos de babaçu e buriti, onde extraímos de forma artesanal e fazemos um trabalho de consciência ambiental para preservação das palmeiras de buriti para preservação dos locais alagados. Apostamos na valorização da cadeia produtiva regional onde compramos matéria prima como mel, óleo de andiroba, óleo de copaíba, óleo de açaí, manteiga de cacau e cupuaçu de associações”, explica Mereilde.
Essa interação dessas produtoras com a natureza e com outros produtores e associações exemplifica o que se busca ao criar uma cultura de APLs no Estado. Como no caso da Saboaria Rondônia, há vários exemplos em que outras empresas se utilizam de produtos de outros empreendimentos, que às vezes seriam até descartados, para criar outras cadeias produtivas.
EXPANDINDO OS APLs
Definido o que são os APLs, veio o segundo desafio do evento. Atualmente, são 13 APLs que já foram reconhecidos em Rondônia. Mas Sérgio Loss, diretor de programas e projetos de extensão do Ifro, apresentou sua tese de doutorado em que esse número aumenta para 27. “A principal diferença é que essa é a primeira vez que estamos mapeando os arranjos de forma científica. Antes, o reconhecimento não tinha o critério metodológico e científico adequado e suficiente para o correto mapeamento dos APLs”, defende Sérgio.
Foi baseado nesse estudo científico que o workshop reuniu quase 70 pessoas de todo o Estado para discutir os arranjos um por um em suas oficinas. Divididos em dez grupos e, ao longo de dois dias, os participantes fizeram análises e discutiram propostas sobre os 27 APLs propostos.
Essa forma participativa de integrar os APLs chamou a atenção da Bruna Erica, que veio de Jí-Paraná para dar suas sugestões. Com sua experiência como agrônoma e educadora em gestão social no Centro de Estudos Rioterra, sua preocupação gira em torno da falta de cultura organizacional em Rondônia, da dificuldade dos agricultores familiares se reunirem em associações para trocarem experiências e conhecimento.
Bruna defende que os agricultores familiares da região são muito bons em produzir, mas têm dificuldades em enxergar mercados e de gerenciar sua propriedade, não sabendo diferenciar o que é atividade produtiva e o que é da família, por exemplo.
“O Estado hoje, por meio da Sedi, tá começando a trabalhar na criação de uma cultura que resolva essas deficiências. É preciso focar não só no aspecto produtivo, mas na integralidade das ações, vendo os aspectos produtivos, de organização social, de comercialização, e olhando os APLs, que é o arranjo total, a gente consegue ter uma visão macro de tudo isso”, concluiu a Bruna.
RESULTADOS
Após quatro rodadas, os líderes de cada grupo apresentaram a síntese do que foi proposto. O principal resultado foi a eliminação de três arranjos propostos inicialmente. O arranjo de palmito foi considerado como um produto ainda pouco expressivo, e os APLs de fabricação de estruturas metálicas e de cerâmica não refratária podem se integrar ao APL da construção civil, segundo os participantes.
Dessa forma, a proposta final é que Rondônia salte de 13 APLs para 24 APLs, descritos no infográfico a seguir:
Algumas das recomendações dadas pelos participantes foram a de qualificar melhor a mão de obra nos diversos setores, ampliar as pesquisas, induzir processos de organização, promover programas e projetos de melhoria da gestão das propriedades e negócios para aumento de produtividade, diversificar a produção e um aprofundamento dos estudos por APL, a fim de analisar os perfis e as condições de produção, ajudando a identificar a cadeia produtiva e sugerir propostas de intervenção ainda mais específicas.
PRÓXIMOS PASSOS
Muito se fala sobre o desenvolvimento regional, já que cada região de Rondônia tem suas peculiaridades e vocações. Por exemplo, em Rolim de Moura se registrou o melhor resultado na apicultura dos mais de 80 mil quilos produzidos no de 2017 em todo o Estado. Em Cacoal e arredores a cafeicultura ganha expressividade produzindo mais de 100 mil toneladas do produto. Já na capital Porto Velho se destacam a construção civil, que emprega mais de 5.000 pessoas, e também a geração de energia que emprega mais de 600 pessoas.
“Rondônia não vai se desenvolver como um bloco. Cada região do Estado têm seu perfil, suas cadeias produtivas e suas condições de desenvolvimento. Quando colocamos os arranjos no centro desse debate, estamos potencializando a produtividade, a geração de emprego e a renda. Não só isso, gerir o desenvolvimento, que é papel da Sedi, acaba se tornando muito mais simples, pois sabemos onde atuar como Governo. É um passo necessário para a economia rondoniense”, destaca Sérgio Gonçalves, superintendente da Sedi.
É por isso que os próximos passos são a realização de novos workshops no interior do Estado, que o Núcleo Estadual de Apoio de Arranjos Produtivos Locais de Rondônia acompanhe, até o final de 2020, a aplicação das medidas sugeridas durante o workshop, e que seja publicado um decreto reconhecendo os 24 APL, além de outros chamados de ‘APLs potenciais’, que ainda não atingiram um índice de especialização suficiente, mas têm produção e/ou volume de empreendimentos expressivos.
O objetivo é que, em poucos anos, os APLs sejam o centro do debate do desenvolvimento econômico de Rondônia.
Fonte
Texto: Devanil Júnior
Fotos: Devanil Júnior, Frank Néry e arquivo Secom
Secom - Governo de Rondônia
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Agricultura, Agropecuária, Economia, Educação, Empresas, Evento, Indústria, Infraestrutura, Piscicultura, Sociedade