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Maior colônia de pomeranos da Amazônia vive em Rondônia

27 de junho de 2014 | Governo do Estado de Rondônia

       

Tesch e esposa Nilza: vida dedicada a Rondônia desde os anos 1970

Tesch e esposa Nilza: vida dedicada a Rondônia desde os anos 1970

Incrustado na região Oeste de Rondônia, com 4,5 mil quilômetros quadrados, o município de Espigão do Oeste, na divisa com Mato Grosso, abriga uma população de 40 mil habitantes, dos quais, mais de quinze mil são descendentes de pomeranos. Segundo o pesquisador Jorge Kuster Jacob, a palavra Pomerânia teve origem na língua Wendes Pomerje, significando “terra junto ao mar”. Hoje, eles formam a maior colônia desse povo na Amazônia Brasileira.

 “Foram os pomeranos que iniciaram o povoamento da Região Oeste do Estado, na década de 1960, no século passado”, assinala o prefeito Célio Renato.

Com o apoio do Governo do Estado, que mantêm estradas e infraestrutura para as colheitas de café e lavouras de subsistência, assim como a criação de pequenos animais nas comunidades de Rio Claro, Santa Rosa, Capa-80 e Tacarana, compostas de pequenos agricultores familiares, uma tradição milenar do povo pomerano, Bom Pastor e 21, duas comunidades localizadas no município de Cacoal, fazem parte da Colônia de Espigão do Oeste.

A Paróquia Luterana com mais de cinco mil fiéis, quatro igrejas com diferentes orientações frequentadas pelos pomeranos, mantém coexistência pacífica com a Igreja Católica. Eles preservam suas culturas, costumes e tradições, com indumentárias típicas, músicas, danças, folclore, e a famosa linguiça de dois metros.

       Para manter vivas suas origens socioculturais, eles produzem e apresentam um programa na emissora de rádio local transmitido no dialeto deles com músicas próprias, relata o presidente da Associação Pomerana Evaldino Keller. Descendente de pomeranos, o vereador Severino Schulz conseguiu com o deputado Carlos Magno uma emenda parlamentar no valor de R$ 450 mil para construir “O Portal dos Pomeranos”, na rodovia que interliga Espigão do Oeste com a BR-364.

Injustiçados na história

O povo Wendes, de cultura e língua eslava habitou a Pomerânia desde o ano 600 depois de Cristo. Entre os séculos X e XI, poloneses e dinamarqueses guerrearam entre si pelo domínio do litoral do Mar Báltico arrasando quase a metade da Pomerânia.  Entre os povos europeus, os pomeranos certamente representam os que mais sofreram e foram injustiçados durante toda a sua história.

    Mas não para por aí. Em 1124, aconteceu a cristianização dos pomeranos, que antes desta data voltavam-se às suas crenças relacionadas a fenômenos ligados­ às florestas e aos rios. Eles viviam na região do rio Elba e do Mar Báltico, onde haviam organizado locais de cultos às suas divindades dedicadas à natureza. Os oráculos faziam previsões a respeito do resultado de guerras e conflitos, e previsões sobre as safras. Isso talvez explique pelo menos em parte o amor deles pela agricultura familiar.

       Em 1817 surgiu a Província da Pomerânia, situada entre Alemanha e Polônia e os países escandinavos, no litoral do Mar Báltico. Na década de 1871, a Pomerânia se tornou um dos estados mais importantes do Grande Império Alemão, até 1945. Ela existiu até o final da Segunda Guerra. Com a derrota do regime nazista, apenas com a roupa do corpo, os pomeranos tiveram que abandonar suas casas da noite para o dia. Muitos morreram congelados ou foram saqueados e mortos antes de chegarem à Alemanha Ocidental.

    Assim, a Pomerania estava deletada definitivamente do mapa da Europa. Raros estudos historiográficos existentes sobre os conflitos às margens do Mar Báltico durante a Segunda Guerra estimam que mais de 500 mil pomeranos tenham sido mortos durante a retirada da Pomerânia polonesa.

      No outro lado do planeta, os pomeranos no Espírito Santo eram confundidos com alemães nazistas. Eles foram presos, torturados e perseguidos pelos “bate-paus” de Getúlio Vargas, entre eles civis que se disfarçavam de militares, saqueando para levar comida, bebida, animais encilhados e objetos de valor, entre os quais, relógios e dinheiro. Essas e outras barbaridades foram cometidas contra agricultores humildes que nem sabiam o que acontecia do outro lado do mundo.

    Ainda de acordo com Jorge Jacob, os primeiros imigrantes pomeranos chegaram em 1859 ao Brasil, principalmente ao Espírito Santo, ocupando as regiões serranas naquele estado. Somente o processo histórico fará compreender melhor a identidade cultural e de maneira especial a caminhada migratória deste povo em busca de terras para sua sobrevivência no meio de tantas lutas e guerras ao longo dos séculos.

     As matrizes socioculturais, consubstanciadas com detalhes curiosos do que foi esse processo histórico de incomparável densidade humana, não faltando nele a dimensão trágica para mostrar a coragem de um povo simples que de um momento para outro se viu relegado ao Deus-dará sem pátria e terra para produzir.

     Vinda para Rondônia na carroceria de um caminhão

    Para o interior de Rondônia, muitas famílias migraram na década de 1960 conforme relata o pioneiro, descendente de pomeranos, Martino Tesch. Aos 77 anos, ele derrama lágrimas quando lembra que deixou o Espírito Santo em três de outubro de 1969 para se embrenhar nas matas do hoje próspero município de Espigão do Oeste. Num velho caminhão Toyota, ele transportou dezenas de conterrâneos. “Rondônia vivia em tempo de integração e progresso”, comenta.

Caminhoneiros enfrentavam  atoleiros na BR-364

Caminhoneiros enfrentavam atoleiros na BR-364

No início, a vida deles no vilarejo não foi lá um mar de rosas. Além da endêmica corrupção, eles ainda tinham que conviver sob os olhares da polícia do regime militar, quando o cidadão apanhava antes para falar depois. O município de Pimenta Bueno ainda era Território Federal e naquela época começou a receber os pomeranos, demorando 11 dias de viagem em cima de um pau-de-arara.

Segundo Tesch, nessa época mais sete famílias, compondo um grupo de mais de 30 pessoas entre adultos e crianças enfrentaram chuvas, estradas precárias, alguns policiais corruptos nas divisas dos estados, uma vez que já era proibido transportar gente em carroceria de caminhões. Tiveram que entregar a esses policiais o dinheiro guardado para começar a vida nas “terras prometidas de Rondônia”. Só assim, a viagem continuaria em paz.

Num pequeno quarto localizado nos fundos de sua residência, no centro de Espigão, Tesch conserva um relicário com fotos e documentos dos tempos sofridos que enfrentou ao lado de tantos outros pomeranos para povoar este município que na atualidade guarda um rebanho de 390 mil cabeças de bovinos e produz 90 mil litros de leite/dia. Ali, ele e a mulher Nilza Mund Tesch criaram oito filhos, cinco homens e três mulheres.

Martino Tesch

Martino Tesch

No início da década de 1970, João Guerino Melhorança, pai, Nilo Tranquilo Melhorança, José e Romeu Melhorança, filhos, iniciaram o processo, demarcando uma vasta área adquirida autorizados pelo Governo Federal para assentar famílias de pequenos agricultores no distrito.

Estes pioneiros vindos de São Paulo iniciaram a abertura das primeiras picadas na mata, demarcando os lotes na direção do sul para o norte. Muitas crianças e adultos morreram embaixo de casas construídas de pau-a-pique, infectadas pela malária, assim como outras que foram atacadaS por cobras sucuri.

Irregularidades

No início da década de 1970, o executor do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), o todo poderoso capitão Sylvio Gonçalves de Faria, que contava com a cobertura do então governador nomeado do Território Federal de Rondônia, Theodorico Gahyva, determinou que os lotes já demarcados em Espigão do Oeste deveriam ser cortados na direção de leste para oeste e não de sul para o norte, conforme vinha executando a empresa Melhorança Incorporadora.

Essa atitude do então executor causou um clima de descontentamento entre os assentados, uma vez que seus lotes seriam cortados ao meio, acarretando prejuízos incalculáveis aos produtores rurais já em torno de 200 famílias, que cultivavam lavouras de milho, feijão e arroz. O conflito entre a polícia do Território e os produtores rurais era iminente, lembra Tesch. Na tarde do dia 29 de abril de 1974, uma patrulha formada por 15 policiais invadiu acampamentos, espancando, homens, mulheres e crianças, destruindo ranchos e quebrando utensílios domésticos, e aprisionando diversos colonos.

Entrava em cena o então deputado federal pelo MDB de Rondônia, Jerônimo Santana. Da tribuna da Câmara dos Deputados, ele discursava energicamente, em defesa dos produtores rurais de Espigão do Oeste, denunciava casos de corrupção no Incra e encaminhava um telex ao então presidente da República, general de Exército Ernesto Geisel, no qual detalhava todas arbitrariedades cometidas contra os colonos.

Por determinação do presidente, um grupo de agentes do Serviço Nacional de Informações (SNI) deslocava-se até Espigão para investigar e apresentar um relatório sobre os conflitos naquele distrito. Ouviram dezenas de pessoas e retornaram a Brasília, apresentando um relatório no qual fazia constar que ali residiam trabalhadores rurais e famílias perseguidas e taxadas de “agitadoras e comunistas” pelos governantes do Território.

O oficial que redigiu o relatório ao presidente diria: “São pacíficos, trabalhadores branquinhos, que nem o senhor”. Numa canetada só, Geisel exonerava o então governador do extinto Território, Theodorico Gahyva e o executor do Incra, Sylvio Gonçalves Faria, apaziguando os ânimos na região.

Com recomendação expressa para tratar bem os agricultores de Espigão do Oeste, o presidente nomeava Humberto da Silva Guedes, em substituição a Gahyva. Desde então, os conflitos acabaram e mais tarde o governador Jorge Teixeira visitava frequentemente a região.

Espigão encontrava sua vocação de município produtor de gêneros de primeira necessidade. Pomeranos e brasileiros coexistiram em harmonia.

Tradições serão festejadas em julho

 Novas gerações descendentes de pomeranos

Novas gerações descendentes de pomeranos

 

Nos dias 26 e 27 de julho, com muitas danças e comilanças os pomeranos de Espigão do Oeste estarão concentrados na sede de sua associação, para comemorar culturas e tradições.

Atualmente Espigão do Oeste transformou-se num dos celeiros agrícolas de Rondônia e é sede da maior colônia Pomerana da Amazônia. Cidade com características europeias, onde despontam suas ruas largas e arborizadas e uma população bonita, ela é fruto da miscigenação entre europeus, gaúchos, capixabas, nordestinos e paranaenses.

Na feira livre famílias vendem produtos do campo

Na feira livre, famílias vendem produtos do campo

Aos finais de semana, é fácil encontrar pomeranos nas feiras livres, entre os quais, a família de Erlen Márcia, comercializando produtos oriundos da agricultura familiar. Leidiane Dulzke, filha de Lourival Dulzcke atende em sua banca de verduras. Loirinha, simpática e feliz, não esconde com palavras e nem no semblante que é descendente de pomeranos.

O Centro de Documentação e Informação da Câmara dos Deputados mantém um arquivo com centenas de páginas, explicando a presença e a importância dos pomeranos no Brasil.


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Fonte
Texto: José Luiz
Fotos: José Luiz e Arquivo Pomeranos
Secom - Governo de Rondônia

Categorias
Cultura, Sociedade


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