ESPECIAL PÓS-ENCHENTE
02 de maio de 2014 | Governo do Estado de Rondônia
Após o rio Madeira marcar 19,74 metros em 30 de março, numa cheia histórica e jamais presenciada, atingindo mais de 4 metros acima da média histórica (15,30 metros) ele começa a retroceder e a mostrar os estragos que ficaram encobertos pelas águas por quase sessenta dias.
Estradas e ruas tiveram de ter seu leito aumentado para possibilitar o tráfego, mesmo assim, alguns trechos da BR-364 chegaram a ter mais de um metro de lâmina d´água sobre o leito da estrada. Casas na área rural e urbana ficaram submersas e agora com a redução das chuvas começa a mostrar a quantidade enorme de sedimentos (areia) que o Madeira carrega.
Na BR-364, com o nível do rio ultrapassando 1 metro acima da estrada, o Departamento Nacional de Estradas de Rodagens (Dnit) providenciou sinalização às margens da rodovia para sinalizar aos caminhoneiros que teimavam em passar para poder levar mercadorias, combustíveis e medicamentos para as áreas isoladas, como o estado do Acre e aos distritos de Porto Velho, como Jacy-Paraná, Abunã, Vista Alegre e Extrema.
Em Jacy-Paraná, por exemplo, o comerciante Ronon Felipe, cuja família é proprietária de um hotel e restaurante, disse que a situação ficou caótica e que só não parou de trabalhar “porque pagávamos um barco para atravessar os mantimentos para abastecer o restaurante”.
Com a redução da clientela normal foram beneficiados com um contrato de uma empresa construtora da usina de Jirau, que hospedou 60 de seus funcionários no hotel da família, incluindo alimentação. “Com isso, conseguimos tocar o negócio e não precisamos demitir ninguém”.
Outro sério problema enfrentado pela população diz respeito ao fornecimento de água, pois a grande maioria dos poços que abasteciam a cidade foi contaminada pelas águas do rio Madeira, impossibilitando o consumo. Segundo Thiago Júnior, assistente administrativo da Enesa, empresa que realiza a montagem das turbinas da usina de Jirau, disse que estão tendo de trazer água potável em carros pipas para abastecer a sede da empresa em Jacy-Paraná.
Jacy-Paraná ainda não possui rede de distribuição de água pela Caerd. A Energia Sustentável do Brasil (ESBR), consórcio construtor de Jirau, está em fase de conclusão de uma Estação de Tratamento de Água (ETA) e após o aceite da obra ela será entregue à Caerd e o Consórcio irá construir a rede de distribuição, “através de um projeto que elaboramos e passamos para eles”, disse o diretor técnico da Companhia de Águas e Esgotos de Rondônia, Caerd, Nelson Marques, em entrevista no mês de março.
Thiago diz também que após as águas baixarem já estão realizando a limpeza, manutenção, troca de materiais elétricos e reformas no prédio que além de receber os novos contratados, realizando toda parte administrativa, também serve, em um segundo pavimento, para alojamento de quase cem homens.
Segundo ele a empresa teve de mudar duas vezes de local, pois perceberam que a água chegaria ao prédio “e mudamos para o outro lado da BR”. Mas com o passar dos dias “o outro prédio também foi atingido e aí mudamos para um outro local na parte mais alta da cidade”.
Cerca de 50 metros da Enesa, o restaurante de Nelson de Matos Silva também foi atingido. Segundo ele, a água chegou a medir 1,30 metros dentro do estabelecimento e no dia que entrou pela primeira vez, atingiu os 12 frezers do estabelecimento, “queimando todos”. O prejuízo entre tempo fechado, reformas e novos equipamentos “deve chegar aos R$ 250 mil”, diz o proprietário, que com a reforma pretendia reabrir o estabelecimento no dia 1° de maio.
Localizada há mais de 100 metros da margem da BR-364, a rua Pedro Osório também foi atingida, estando até hoje com aspecto de deserta. Na rua, a reportagem encontrou Antonio de Oliveira, que disse morar em Jacy há 40 anos “e nunca vi nada igual a isso”.
Proprietário de um pequeno comércio e de um conjunto de apartamentos, mesmo sendo de madeira, garantiam o sustento dele e da família, que “está abrigada na escola Cora Coralina”. Ele disse estar cuidando do local e tentando limpar aos poucos para “depois verificar se vai dar para habitar novamente”.
Assim como os demais moradores da cidade, está triste, aborrecido e com olhar perdido e desorientado. Para ele, o maior problema é água potável, que desde que houve a enchente e contaminação dos poços, estão tendo de “comprar água para beber”. Além disso, perdeu todas as árvores frutíferas que tinha no fundo do terreno. “Morreram todas, uma lástima”.
Na mesma rua fica localizada a escola estadual de ensino fundamental e médio Maria Nazaré dos Santos, que se encontrava fechada e sem ninguém para prestar informações. Pelo lado de fora pode se perceber os prejuízos causados. Centenas de livros e carteiras escolares que foram destruídos pelas águas, estão ou na rua ou pelo lado de fora da escola aguardando uma solução.
Escola não parou
Em Jacy-Paraná, mesmo com a BR-interrompida obstruindo a passagem de veículos pequenos, a escola Tiradentes, unidade II, não parou suas atividades. Segundo a vice-diretora Maria Isabel, o trabalho da diretora, Tenente Ossuci, foi fundamental para conseguir os apoios necessários. “Ela se mobilizou e buscou apoio nas usinas e com pais de alunos para atravessar os alunos nas áreas alagadas”.
Com esta atitude, a escola acabou ficando somente quatro dias parada. Segundo ela, a diretora reuniu todos os pais e alertou para a situação, no que todos “foram muito solidários para que as aulas não parassem”.
Em outras escolas as aulas sofreram descontinuidade, ou por ter sido atingida pelas águas ou por receber desabrigados da enchente. A professora Marina, ressaltou o apoio que os pais deram para que as aulas não parassem.
A vice-diretora ressaltou a importância da escola para o distrito, dizendo ter sido “um grande presente do governador a Jacy”, salientando que os alunos tem com a escola um sentimento de alegria muito grande. “Tanto que você não vê um único papel no chão”. Isso, segundo ela, é fruto da disciplina.
A professora Marina falou que muitos alunos, antes da inauguração desta escola, não queriam saber de fazer faculdade. Após iniciar a estudar na nova escola “mudaram de atitude e já falam em fazer um curso superior e até em seguir carreira militar”.
Para a vice-diretora isso é muito gratificante, pois demonstra o bom trabalho desenvolvido pela escola e toda a equipe de professores e “os monitores que são os militares”. A escola atende alunos do 6º ano do ensino fundamental ao 3º ano do ensino médio.
Destruição
Porto Velho é um dos municípios com maior área territorial do país. De Porto Velho a Extrema, divisa com o Acre, são mais de 300 km de estradas. Destes, mais de 20 Km estiveram parcialmente submersos ou submersos, obrigando ao Dnit realizar obras emergenciais para tentar tornar os trechos trafegáveis.
O que se observa ao longo do caminho é um misto de estrada em ótimas condições de trafegabilidade apesar de ter sido encoberta pelas águas do Madeira, trechos com alguns buracos e estrada completamente destruída pela enchente.
O trecho mais crítico se encontra entre os quilômetros 862 a 884. Nestes trechos, além do Dnit ter realizado obras para aumentar o leito da estrada, só passavam caminhões e carros pequenos eram transportados na carroceria de caminhões guincho mediante o pagamento de frete.
Neste trecho, encontramos o sítio Nova Esperança de propriedade do agricultor Antonio Eleutério. Este e outros sítios encontram-se abandonados. Conseguimos falar com seu genro, Robimar Salazar Nunes, que estava de passagem pelo local para verificar a situação.
Segundo ele, perdeu-se tudo. Produção de macaxeira e criação de galinhas. Não há mais esperança no sítio Esperança. “Meu sogro vai parar de plantar macaxeira e vai plantar somente milho”, disse Robimar, que disse que todos os cinco integrantes da família estão morando em outra localidade um pouco mais à frente e vão cuidar dessas terras.
“O milho produz mais rápido e vamos plantar só isso para poder manter um pouco de galinhas”, disse Robimar, entristecido, olhando para o capim que está ressequido pelo tempo que ficou submerso pelas águas.
Na travessia do rio Madeira, realizada através da balsa, se percebe a quantidade de areia carregada pelas turvas água do rio Madeira. As pequenas casas e comércio que sobrevivia do movimento de veículos tiveram as casas alagadas e agora tomadas por lama e areia. Muitas terão de ser totalmente reconstruídas.
Fonte
Texto: Geovani Berno
Fotos: Ésio Mendes
Secom - Governo de Rondônia
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