Pioneiros – A História de Todos Nós
17 de junho de 2014 | Governo do Estado de Rondônia
História do município é contada por pioneiros
O município de Alta Floresta d’Oeste completou 28 anos de emancipação política no dia 20 de maio. De acordo com a tradição da cidade, a comemoração ocorre no dia 17 de junho, data da instalação. O prefeito Valdoir (Valduil) Gomes Pereira autorizou que a festa iniciasse domingo, dia 15 de junho. Na programação, torneios de vôlei no masculino e feminino, passeio ciclístico, mini maratona, festival de música sertaneja e a apresentação da banda Djavu. A comemoração termina nesta quarta-feira (18) com o show da dupla gospel Daniel & Samuel.
O governo de Rondônia homenageia Alta Floresta publicando entrevistas com o pioneiro Sadi Francisco Possa e com uma de suas primeiras educadoras, a professora Maria das Neves, no projeto desenvolvido pela equipe do Decom “Pioneiros – A História de Todos Nós”. A família Possa está na região de Alta Floresta D’Oeste desde 1982, quando instalou uma pequena serraria. Já a professora Maria das Neves chegou em 1984 e foi lecionar em uma escola rural. Confira as entrevistas.
Decom – Qual a sua origem, Sadi Francisco Possa?
Sadi – Nasci em Coronel Freitas (SC), no dia 22 de outubro de 1960, onde vivi com meus pais, trabalhando na roça em sítio pequeno por muito tempo. Em 1982, meus irmãos Gentil e Pedro Possa, mais o primo Anselmo, vieram a Rondônia. Eles chegaram vindo de Santa Luzia a pé, na marcação de um senhor de nome Tiãozinho. Na época, se comentava que iriam abrir um patrimônio aqui. Com a notícia de que iria surgir uma nova cidade, eles retornaram e, após uma reunião com a família, foi tomada a decisão de vir pra cá.
Decom – O que veio na bagagem?
Sadi – Compramos uma serraria no Rio Grande do Sul. Meu irmão vendeu uma casa que ele tinha em Chapecó, comprou um caminhão velho e um trator e viemos para cá. Naquele tempo a BR ainda não era asfaltada. Quando havíamos viajado cento e poucos quilômetros, o motor do caminhão fundiu. Com isso, levamos aproximadamente quinze dias para chegar aqui. Já existia uma estradinha e nós ficamos onde hoje é o aeroporto, aguardando o Isidoro (já falecido), que mais tarde foi o primeiro prefeito. Ele estava abrindo uma estrada pela 160. Esperamos ele fazer uma ponte para a gente passar, isso foi num domingo ao meio dia e nosso almoço foi banana com mamão. A data desse episódio foi 26 de junho de 1982. Toda estrutura para abrir a serraria chegou no outro dia, trazida por um primo em outro caminhão.
Decom – A serraria era considerada grande?
Sadi – Era uma serraria pequena, ela andava em cima dos trilhos. A tora ficava parada e a fita é que andava. Era uma forma de começar a trabalhar. Até hoje, apesar de não estar mais funcionando, o barracão da serraria existe e fica perto da feira do agricultor cujo espaço também era nosso, mas era tudo mato. Na época você saia ali onde hoje é a praça Castelo Branco, andava 200 metros pra cada lado e já era mato. Ali o Isidoro vendeu pra gente um alqueire de terra e ele mesmo, com seu trator esteira, fez a derrubada e a gente se instalou.
Decom – Vocês beneficiavam que tipo de madeira?
Sadi – Na época, apenas mogno. Não existia comércio para cerejeira, cedro, rosa, jatobá e garapeira. Era só mogno tipo exportação. As primeiras duas toras de Mogno eu arrastei ali de onde é o Teatro Municipal. Levei as toras pra ver se a serraria funcionava ou não.
Decom – A madeira que vocês serravam era só para exportação?
Sadi – Serrávamos bastante madeira para exportação, só que a madeira considerada de segunda ficava toda aqui na região. Com essa madeira de segunda, a gente fazia tábuas que eram utilizadas na construção das casas e armazéns. Até hoje ainda existem casas construídas com mogno daquela época.
Decom – Vocês exportavam pra onde?
Sadi – Era tão difícil o mercado que a gente trabalhava durante a semana e no sábado de manhã. Carregava o caminhão e ia pra Rolim de Moura aonde chegávamos de noite. No outro dia, cedinho, descarregava o caminhão sozinho no pátio de um amigo e vinha embora. Durante a semana meu irmão ia pra lá e, através de amigos, conseguia vender para São Paulo. A madeira saía do Brasil via Porto de Santos. Em 1983, passamos a exportar a partir de Porto Velho e, então, eu já levava a carga pra lá.
Decom – Quem foi o principal responsável pela transformação de Alta Floresta em município?
Sadi – O Isidoro foi o cara que deu o pontapé inicial. Ele morava em Pimenta Bueno e resolveu se instalar aqui e foi abrindo estrada, abrindo rua, foi medindo, foi ajeitando. Outro que deu força na época foi o José Piovesan. Ele tinha umas terras e foi vendendo. E o governador Teixeirão – tenho foto dele desembarcando do helicóptero ali na praça – descia e ficava conversando com a gente.
Decom – O nome já era Alta Floresta?
Sadi – Não existia nome ainda. Foram colocados para apreciação vários nomes, inclusive o do saudoso Isidoro, mas a população decidiu por Alta Floresta porque a mata era muito alta. Nossa família fez parte da reunião que escolheu o nome da cidade.
Decom – Fale mais um pouco sobre o processo da construção de Alta Floresta?
Sadi – Foi e é muito gratificante ter participado e estar participando do desenvolvimento da cidade. Quando a gente conta a história de como surgiu a cidade, tem quem não acredita que tinha gente que batia martelo, construindo de noite com uma velinha acesa ou uma lanterna. Todo dia chegava mudança e não era pouca. E o povo comprava freneticamente madeira e material de construção. A luz elétrica só chegou mesmo em 1985. Os donos de lanchonetes, restaurantes e bares e os outros que tinham boas condições financeiras, compravam seus próprios geradores de energia. Os de menor poder aquisitivo adquiriam geladeira a gás.
Decom – E a história do seu casamento?
Sadi – Sou casado com a dona Neidi Possa, inclusive essa história é meio interessante. Meu pai tinha vendido um sítio que a gente tinha lá em Santa Catarina e queria vir pra cá, então fui lá, casei no sábado, dia 22 de outubro de 1983, data do meu aniversário e, na segunda feira, carregamos a mudança e partimos com meu pai e minha mãe em cima de um caminhão “pau de arara”. Temos dois filhos homens muito bem encaminhados.
Decom – E o Zé Velho?
Sadi – O Zé Velho já chegou em 1984, se não me falha a memória, e abriu um escritório de contabilidade. A gente deu força pra ele ingressar na política. Na época, o Isidoro queria que meu irmão Gentil saísse candidato a vice-prefeito no primeiro mandato dele que foi de 1986 a 1988 (era tampão). Como nunca havíamos mexido com política, achamos por bem ficar de fora e então indicamos o Zé Velho. Por falar em prefeito, nossa cidade tem uma tradição de não reeleger ningém. O povo daqui cobra mesmo, graças a Deus que sempre tivemos prefeitos que podemos considerar como razoavelmente bons. De uns tempos pra cá, eles (os prefeitos) só vêm melhorando, até porque o governo do estado está ajudando com asfalto e conservando as estradas, apesar de a topografia de Alta Floresta não ajudar, pois é serra. O governo cascalha as estradas e, no final da chuva, já foi tudo embora, é muito morro. Mas as melhores terras de Rondônia estão aqui em Alta Floresta.
Decom – Alta Floresta festeja no dia 17 de junho mais um ano de sua instalação como município, por isso gostaríamos que o senhor deixasse uma mensagem à cidade que ajudou a desenvolver.
Sadi – Falar de Alta Floresta me deixa emocionado. Lembro-me da situação na qual a gente veio pra cá. Mas tínhamos muita vontade, muita garra, não só a nossa família, mas a maioria das famílias que estão aqui até hoje, que são pioneiras. A gente lembra de todo o passado, o sofrimento, as dificuldades. O que quero dizer para povo que mora em Alta Floresta é que Deus encaminhou a gente de Santa Catarina pra cá e nos ilumina até hoje. Aqui morreu muita gente. O índice de criminalidade na época era muito alto e graças a Deus a gente nunca teve problema com ninguém. Quero deixar um abraço muito forte pra todo o povo de Alta Floresta.
Maria das Neves – a primeira professora da zona rural
Decom – Maria das Neves Lima Marques qual é a sua história em Alta Floresta?
Maria das Neves – Nasci em 16 de maio de 1967. Vim de Mato Grosso pra Rondônia em 1984. Em 1988 casei com o catarinense Antônio Marcos. Temos apenas uma filha, a Daiane, que trabalha na prefeitura. Meu pai sempre teve o sonho de ser proprietário de terra, então ele veio para Rondônia. Ele primeiro pesquisou a região, voltou e providenciou nossa mudança direta para Alta Floresta. Graças a Deus estamos aqui até hoje. Moramos na linha rural 156 no Km 30 por dez anos. Vim para o centro de Alta Floresta em 1999.
Decom – Onde trabalhou?
Maria das Neves – Lá na linha já trabalhava como professora e na cidade comecei no colégio Floresta Encantada. Como eu era funcionária estadual, veio uma determinação que quem era do Estado tinha que assumir a função em escola estadual. Então fui para a escola Ramin, onde trabalhei por nove anos. De lá fui para Apae onde estou até hoje.
Decom – O que quer dizer Ramin?
Maria das Neves – Ramin é uma escola que fica no bairro Redondo e é uma homenagem ao Padre Ezequiel Ramin, que foi assassinado por jagunços. No tempo que atuei lá, desenvolvemos um projeto com os alunos do ensino fundamental que contava a história do padre,
Decom – Quando a senhora chegou aqui já existia o município de Alta Floresta?
Maria das Neves – Não. A região pertencia a Rolim de Moura. Ser professora na zona rural foi muito gratificante, mas era muito difícil. Não havia estradas e a gente ia para a escola a pé ou em cima de animal. Era sofrido. Apesar das dificuldades, fazia aquilo com muito amor e carinho. Trabalhava da primeira a quarta séries, o chamado ensino multisseriado.Na escola eu era merendeira, zeladora, diretora e professora.
Decom – Como era Alta Floresta quando a senhora chegou?
Maria das Neves – À noite a gente só ouvia barulho de serraria e do pessoal desmatando. Espalhou-se que a terra aqui era fértil. Era mudança chegando todo dia e toda hora. O problema era que acontecia muita tragédia, muita morte, pois havia muito jagunço.
Decom– Seus pais trabalharam com madeira também?
Maria das Neves – Não. Nossa família já chegou trabalhando com agricultura, plantando arroz, feijão, café, milho etc. Meu pai José Acelino da Silva, que faleceu no dia 2 de dezembro de 2008, e minha mãe, Maria Anália da Silva, que graças a Deus está viva, são pioneiros de Alta Floresta.
Decom – Hoje a senhora leciona na Apae. Qual a diferença para o ensino numa escola tradicional?
Maria das Neves – Lecionei 22 anos em escola dita normal e aqui na Apae estou há cinco anos. A única diferença é que aqui o aprendizado dos alunos é mais lento. Às vezes você não vê desenvolvimento na leitura, mas vê outros que se superam. A gente tem exemplo de aluno que não podia estar no meio da sociedade, uma mãe reclamava que não podia frequentar a igreja porque a filha era problemática. Ela veio aqui, deu depoimento confirmando que a Apae modificou tudo isso. Hoje ela vai a todos os lugares com a filha e o comportamento da filha é normal. Isso é gratificante.
Decom – O que a senhora deseja a Alta Floresta pela passagem deste aniversário?
Maria das Neves – Que Deus abençoe todos, que o município continue se desenvolvendo cada vez mais, que abençoe esse povo maravilhoso que é muito solidário. Que Deus dê sabedoria para nossas autoridades governarem bem nossa querida Alta Floresta d’Oeste. Parabéns!
Fonte
Texto: Silvio M. Santos
Fotos: Robson Paiva
Secom - Governo de Rondônia