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29/03/2024

FIOCRUZ-FAPERO

Algumas das 13 espécies de mosquitos em Porto Velho podem ser vetores do plasmódio da malária, revela pesquisadora

09 de julho de 2019 | Governo do Estado de Rondônia

Anopheles darlingi é a espécie mais encontrada no entorno de Porto Velho; há outras

Algumas das 13 espécies de mosquitos anofelinos encontradas e estudadas em Porto Velho  podem ser potenciais vetores do plasmódio da malária. Essa diversidade faunística surpreendeu pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz Rondônia (Fiocruz Rondônia).

São mosquitos conhecidos como suvelas ou mosquitos-prego. Os resultados dessa pesquisa serão apresentados em seis e-pôsteres digitais, no Congresso de Medicina Tropical, de 27 a 31 de julho, em Belo Horizonte (MG).

A pesquisadora da Fiocruz Rondônia Genimar Rebouças Julião coordenou a equipe que começou a estudá-los em 2017, no projeto Avaliação do Potencial Sinantrópico de Insetos Vetores em Áreas Urbanas e Periurbanas de Porto Velho.

Esse estudo teve apoio financeiro do Programa de Apoio à Pesquisa (PAP) da Fundação de Amparo ao  desenvolvimento das Ações Científicas e Tecnológicas (Fapero). O programa é conhecido por Pró-Rondônia e também contou com recursos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), do Ministério da Educação.

“Nessa avaliação comparativa dos ambientes de mata, parques, matas de igarapé, e a área urbanizada, estudamos a ocorrência de mosquitos que se acreditava serem tipicamente de floresta e também frequentam os arredores de casas em Porto Velho”, ela diz.

 

Pesquisadora Genimar Rebouças Julião coordenou estudos sobre mosquitos

Potencial sinantrópico, segundo ela explica, diz respeito à capacidade de adaptação de organismos ao ambiente humano, situação observada para algumas espécies de insetos. “Essa adaptação também é chamada de domiciliação.

O melhor exemplo que verificamos nos tempos atuais é o da espécie Aedes aegypti, o mosquito da Dengue, Zika e Chikungunya.

Essa espécie tem como ancestral uma linhagem típica das florestas da África”.
Quanto aos anofelinos, o Anopheles darlingi é o principal vetor da malária na região Norte e tem predominância em áreas periurbanas (84-99%). Porém, em áreas urbanas essa dominância reduz (42-56%), e outras espécies de mosquito frequentam os arredores das casas, tais como An. strodei e An. triannulatus.

“Já que outros anofelinos podem transmitir essa doença, nas próximas etapas do projeto esses mosquitos serão analisados por técnicas moleculares para a presença de Plasmodium spp., o protozoário causador da malária”, ela assinala. Mas antes dessas análises, os mosquitos estão sendo seccionados (cortados), de maneira a se investigar a porção do inseto que mais representa a possibilidade de infectar humanos.

Vários grupos de insetos potencialmente vetores estão sendo estudados pela Fiocruz Rondônia, entre eles, o mosquito da Dengue, mosquito doméstico, maruins, barbeiros e flebotomíneos, esse último conhecido também catuquira.

Segundo a pesquisa, além dos anofelinos, outros tipos de mosquitos são encontrados em Porto Velho. Eles  pertencem aos gêneros Culex, Mansonia, Psorophora e Wyeomyia.

“Constatamos também que o mosquito doméstico Culex quinquefasciatus foi muito frequente e abundante nas casas de Porto Velho; essa espécie se cria em fossas e em águas com muita matéria orgânica”, diz.

VETOR DO VÍRUS DA FEBRE OROPOUCHE

A pesquisa também investiga os maruins, também chamados de mosquito-pólvora, porvinha ou meruin. Até o momento foram coletados 1.912 exemplares, dos quais 12 eram Culicoides paraensis, principal espécie vetora do vírus da Febre do Oropouche.

A origem do nome Oropouche deve-se a uma localidade de Trinidad e Tobago, aonde houve o primeiro registro da doença. Esse foi o primeiro registro desse inseto para área urbana e periurbana do município de Porto Velho, e tem grande relevância, dado o histórico de epidemias de Oropouche em populações humanas de Rondônia.

CAMPANHA NO WHATSAPP
IDENTIFICA O BARBEIRO 

A pesquisa também obteve bons resultados com triatomíneos,
também chamados de barbeiros, os vetores do Trypanosoma
cruzi, causador da doença de Chagas.

A equipe adotou um aplicativo multiplataforma denominado
WhatsBarb, pelo qual as pessoas perguntam e enviam fotos de
insetos que se parecem com barbeiros.

“Em cinco meses tivemos 113 participantes de 14 estados do
Brasil; 78,7% dos contatos foram de Rondônia, e
aproximadamente 50% de Porto Velho”, conta.
As pessoas enviaram fotos de insetos, dos quais 19 eram de
triatomíneos, 73 percevejos fitófagos (sugadores, se alimentam de produtos vegetais); nove predadores (se alimentam de insetos), e 12 besouros variados.

“Além disso, um exemplar de percevejo predador no bairro Novo nos revelou claramente a lacuna a respeito da biodiversidade rondoniense, por isso é necessária a identificação”, propõe Genimar.

Esse exemplar de reduviídeo, predador da subfamília Sphaeridopinae, permitirá que especialistas estudem a revalidação de uma espécie ou a sua manutenção como sinonímia de outra descrita anteriormente.

VETORES DE LEISHMANIOSES

A coleta de flebotomíneos alcançou menos de 100 insetos, o que era esperado, já que são associados a áreas de florestas. As espécies mais representativas foram Nyssomyia antunesi, Bichromomyia flaviscutellata e Psychodopygus davisi, consideradas vetores de leishmaniose no Brasil.

Genimar Julião enfatizou ainda que a pesquisa sobre insetos vetores requer muita persistência e dedicação. “Graças à sua equipe de alunos e técnicos, temos resultados muito interessantes em um curto prazo de tempo”. Segundo a pesquisadora, esse é um reflexo da Chamada PAP Pró Rondônia: “Além de prover recursos para a pesquisa, ele concedeu bolsas aos alunos, o que permitiu agregar mais pessoas à equipe”, assinalou.

QUEM É A PESQUISADORA

Graduada em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Minas Gerais em 1996, Genimar tem mestrado em Ecologia e Conservação pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e doutorado em Biologia pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA).

 CONGRESSO DE MEDICINA TROPICAL

* O 55º Congresso de Medicina Tropical de 2019 será realizado de 28 a 31 de julho, em Belo Horizonte (MG). O evento será realizado conjuntamente com o 26º Congresso Brasileiro de Parasitologia, a 34ª Reunião de Pesquisa Aplicada em Doença de Chagas e 22ª Reunião de Pesquisa Aplicada em Leishmanioses. Veja o site

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Fonte
Texto: Montezuma Cruz
Fotos: Ésio Mendes e ICB USP
Secom - Governo de Rondônia

Categorias
Rondônia


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