DESAFIOS E PRÁTICAS
09 de maio de 2019 | Governo do Estado de Rondônia
Transformação. A palavra resume o sentimento de alegria entre alunos, professores, diretores e zeladores da Escola Municipal de Ensino Infantil e Ensino Fundamental João Afro Vieira, na Vila Princesa, onde fica o lixão de Porto Velho. Nessa escola construída pela própria comunidade estudam 65 alunos pela manhã e 41 à tarde, distribuídos em cinco salas.
Um livro mudou a vida dessa comunidade a oito quilômetros do centro da capital de Rondônia: Biblioteca Escolar: Memórias práticas e desafios, escrito pelos professores Jussara Santos Pimenta, Hélder Henriques, Márcio Ferreira da Silva, Marcos Leandro Freitas Hübner. Eles fazem parte do Grupo Mnemus de Estudos Interdisciplinares em Educação, História e Memória, criado em 2016 por professores doutores e mestres, bolsistas e acadêmicos da Unir e da Faculdade Uneouro, de Ouro Preto do Oeste.
Com apoio da Fapero, o livro publicado pela Editora CRV foi premiado em primeiro lugar pelo Instituto Pé de Biblioteca, uma startup (empresa iniciante) sediada em Belo Horizonte (MG), cujo objetivo é instalar bibliotecas em comunidades carentes.
“Ganhamos estantes, baús, livros, e com o que já havíamos arrecadado, melhoramos esta biblioteca”, diz a professora Jussara.
Esse livro abriu caminho para a chegada de outros quinhentos que ampliaram, desde o dia 11 de abril, a primeira biblioteca dessa comunidade carente.
Quarta-feira, 8, dez alunos do 4º ano entram na sala e folheiam de tudo. Ana Gleice Costa da Silva, responsável pela biblioteca, está satisfeita com o interesse da maioria: “Olhe, eles adoram gibis, mas também levam clássicos emprestados, e devolvem direitinho”.
Angry Birds (quadrinhos), Almanaque Maluquinho (Ziraldo), o dicionário Aurélio Júnior, Pirlimpimpim e A História de Emília (Monteiro Lobato), O menino que morreu afogado no lixo (Ruth Rocha), versões em vídeo de O Pequeno Príncipe e Enrolados (Rapunzel) estão entre outras centenas de títulos nas prateleiras à disposição dos meninos na faixa etária de nove a 13 anos.
“A Juliele leu Curupira (o guardião da floresta) e veio brincar comigo”, relata Ana Gleice.
Uma dos nove professores da escola, Francisca Andreia está feliz com o desempenho dos alunos no Projeto Sacola Viajante: “Eles levam o livro para casa, desenham personagens, resumem histórias e também fazem a reescrita, aprendendo mais do que leram e estudaram”, diz.
Com o apoio do Ministério Público do Trabalho, a professora exibe atualmente um vídeo mostrando ações e o combate ao trabalho infantil.
COMO FOI
O Instituto Federal de Rondônia (Ifro) doou livros arrecadados nos campus Norte, Calama e Ji-Paraná. A Universidade Federal de Rondônia também. Uma aluna visitou um condomínio de militares e também recebeu doações.
“Concorremos com 170 grupos de todo o País e somente dez foram finalistas, ficamos em primeiro lugar entre os três melhores projetos, e o que recebemos, doamos à escola”, conta a professora doutora em educação Jussara Santos Pimenta, da Unir.
Por meio do financiamento do Edital Chamada PAP-Universal nº 003/2015, a Fundação de Amparo ao Desenvolvimento das Ações Científicas e Tecnológicas e à Pesquisa do Estado de Rondônia (Fapero) apoiou a edição do livro escrito por Jussara Pimenta e pelos professores Marcos Leandro Freitas Hübner (também docente da Unir), Hélder Henriques (doutor em ciências da educação pela Universidade de Coimbra) e Márcio Ferreira da Silva (doutor em ciência da informação pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho).
A Fapero proporcionou a aquisição de insumos, cobriu o custo da viagem de dois dias de Jussara a Belo Horizonte; ajudou a custear a vinda de pesquisadores a Porto Velho, para o 1º Colóquio de Bibliotecas Escolares, em agosto de 2017; e apoiou duas bolsistas de iniciação científica – Aldineia do Nascimento Reis e Priscila dos Santos, a primeira, moradora na vila. Elas são concluintes do curso de Pedagogia da Unir e tiveram especial participação na publicação.
Para o primeiro colóquio vieram: a palestrante Flávia Brocchetto Ramos, da Universidade de Caxias do Sul e mestre em letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, e o professor Hélder Henriques, da Escola Superior de Educação e Ciências Sociais do Instituto Politécnico de Portalegre, Portugal. Desse evento participou também, entre outros, o catedrático de História de la Educación da Universidad de Salamanca, Espanha.
Com a terceira parcela da pesquisa, Jussara prevê a realização do 2º colóquio, no segundo semestre do ano, e a publicação de mais um livro com o mesmo o tema.
“Somos o primeiro grupo da região norte do País se dedicar à pesquisa da biblioteca escolar. Somos também o primeiro a aliar conhecimentos da educação e da biblioteconomia no debate dessa área”, orgulha-se Jussara.
Com o esforço de cada um foi possível coletar livros, produzir um vídeo e desenvolver ações em quatro fases, estabelecendo-se um plano de atuação para três anos da biblioteca atual, e elaborou a planta baixa da futura biblioteca.
“Foi uma espécie de gincana, e nesse ambiente e com muito ânimo, chegamos aos resultados”, descreveu a professora Jussara.
“Ensino e biblioteca não se excluem, completam-se. Uma escola sem biblioteca é um instrumento imperfeito. A biblioteca sem ensino, ou seja, sem a tentativa de estimular, coordenar e organizar a leitura, será, por seu lado, instrumento vago e incerto”, analisa o educador e pedagogista brasileiro Lourenço Filho, conhecido por sua participação no movimento dos pioneiros da Escola Nova.
O professor Marcos Hübner está montando um mapa virtual das bibliotecas escolares da rede municipal de ensino de Porto Velho, relatando as suas carências e algumas conquistas. “Não só essa rede, mas nos demais municípios existe fragilidade, pois eles não dispõem de bibliotecários”, conta Jussara.
Há um ano, bibliotecária mestranda em educação, do Ifro Zona Norte, pesquisa o trabalho de professores readaptados em biblioteca escolar. São aqueles acometidos por algum problema de saúde ou próximos à aposentadoria.
Urgente: pesquisadores constataram que somente 20% das bibliotecas brasileiras têm acesso à internet, entre elas, a da Vila Princesa. Segundo eles, esse número muito baixo provoca algum distanciamento da biblioteca de uma realidade cada vez mais presente nas escolas. Aí está uma excelente oportunidade para o voluntariado: a direção da escola aceita doações de equipamentos de informática, prateleiras, mesas e estantes.
DESAFIO VENCIDO
A Escola João Afro Vieira foi construída entre 1999 e 2000, conta a diretora Jaquelene Costa de Souza. “Tudo aqui é fruto da doação: a Unimed deu o terreno e o material de construção, a médica ginecologista Ida Pereas conseguiu mais doações com outros profissionais de sua classe, e a Vepema (Vara de Execução de Penas e Medidas Alternativas do Tribunal de Justiça de Rondônia) fez a cobertura do pátio”.
O vice-diretor Cleiton Braga das Neves lembra que o refeitório teve recursos do antigo Programa de Fortalecimento do Ensino Noturno (Profen). “A escola funcionava na beira do Rio Madeira, numa área de garimpo de ouro, e foi transferida para cá (Rua Francisco Fontineli nº 200). No começo, o professor Josias Lucas Pereira fazia tudo: era diretor, merendeiro, secretário e o que mais precisasse”. Todos se cotizaram para o início das aulas.
O lixão ainda não acabou, mas a Vila Princesa respira cultura entre seus filhos. Tramita no Congresso Nacional projeto que extingue os lixões no País entre 2018 e 2021, “de acordo com a realidade dos municípios”.
Conheça neste site o Instituto Um Pé de Biblioteca
Fonte
Texto: Montezuma Cruz
Fotos: Jeferson Mota
Secom - Governo de Rondônia
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