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PERSONALIDADE

História de Rondônia: Petrônio Barcelos, o 5º governador, criou planos de urbanização e reorganizou a Guarda Territorial

03 de dezembro de 2018 | Governo do Estado de Rondônia

Carro de boi e jipe na paisagem de 1950, em frente à agência central dos Correios

Petrônio Barcelos, 5º governador do Território Federal do Guaporé passou 11 meses e 16 dias no cargo, de 22 de fevereiro de 1951 a 7 de maio de 1952.

A ascensão desse engenheiro civil gaúcho devolveu o poder ao PTB (Partido Trabalhista Brasileiro) oito anos depois da saída do coronel Aluízio Pinheiro Ferreira, líder maior do movimento político cutubas.

Antes de Petrônio, Joaquim Rondon e Frederico Trotta também tiveram mandatos meteóricos.

Uma vez mais, Aluízio influenciou para a nomeação do governador, sob o manto do presidente Getúlio Vargas, que conhecera Porto Velho em 11 de outubro de 1940, depois de visitar Belém e Manaus.  Vargas voltava ao poder em 1951 pelo voto popular recebido nas eleições de 50.

Duas semanas antes de inteirar o curto mandato, Petrônio transmitiu o cargo a Jesus Burlamaqui Hosannah, outro petebista. Em seu governo, ele reorganizou a Guarda Territorial criada em 1944 por Aluízio Ferreira, criou o Corpo de Bombeiros e concluiu o Porto Velho Hotel, onde funcionou o Palácio das Secretarias]. “Os incêndios eram constantes em Porto Velho”, observa o mestre em História Pascoal de Aguiar Gomes, em pesquisa educacional apresentada na Faculdade Marechal Rondon, de Vilhena.

Em 1952, Petrônio designou dois oficiais do Exército para fazer o curso de bombeiros técnicos no Rio de Janeiro e para lá foram enviados os 2º tenentes Esron Penha de Menezes e Donizete Dantas – os dois primeiros bombeiros de Rondônia.

DOAÇÃO POR TODA A VIDA

Soldados da Guarda Territorial enfrentavam as mais difíceis situações, mas exerciam seu pioneirismo. Em depoimento à PM em 2009, o ex-guarda territorial Ismael Cosmo da Silva declarou: “Na Vila Nova de Rondônia, o quartel era uma casa de madeira suspensa do chão, sem porta, sem janela, coberta de palhas com o assoalho bastante precário. Embaixo, dormiam tranquilamente porcos. O medo maior era que a onça que sempre vinha comer porcos, quem sabe, um dia errar de prato e pegar os guardas”.

Em Porto Velho, o falecido capitão Oswaldo Távora Buarque foi exemplo de doação à Guarda. Falava fluentemente o idioma inglês, que aprendera por incentivo do pai, Manoel Buarque, desembargador no Pará, seu Estado natal. Devido à 2ª Guerra Mundial, ele interrompeu estudos de medicina para sentar praça (alistar-se), prestou o Curso Preparatório de Oficiais da Reserva (CPOR) e dali voltou aos 28 anos para a Capital, onde chegou sem ter parentes ou conhecidos.

Governador Petrônio Barcelos

Logo Buarque assumiria o cargo em comissão de sub-comandante da Guarda Territorial por duas vezes, delegado da capital e secretário de governo [cargo na época correspondente ao de vice-governador]. Este último, em 1962, por designação do então presidente João Belchior Marques Goulart. Távora acumulou 47 portarias no governo – até hoje, um recorde.

Outro ex-guarda, Lourival Nascimento das Chagas, lembrou que fora designado para abrir uma pista de pouso em Vila de Rondônia [mais tarde Ji-Paraná], a 367 quilômetros de Porto Velho, e suas ferramentas foram enxada, foice e machado.

“Ficávamos muito tempo longe da família e, não tendo outro meio de dar notícias, pedimos ao piloto que levasse algumas cartas, ele negou e a gente ficou triste”.

Com Petrônio, Porto Velho e Guajará-Mirim, ainda pequenas, ganharam o Plano de Urbanização e Regulamentação de Água, Esgoto e Eletricidade, e o Código de Obras.

Em 13 de abril de 1973, no século passado, a Lei nº 63, de 13 de abril, estabeleceu normativas para edificações em geral. No Capítulo I, o artigo 1º determina: “Qualquer construção, reconstrução, reforma ou acréscimo somente poderá ser iniciada nas zonas urbanas do Município, se o interessado possuir licença de obra, e se a localização do imóvel obedecer às disposições da Lei de Zoneamento”.

Petrônio deu continuidade à construção do Palácio Presidente Vargas [originalmente com pouco mais de 1,4 mil metros quadrados], iniciada pelo antecessor, Joaquim de Araújo Lima. Mesmo assim, conforme relata a escritora Sandra Castiel, determinou à empresa Galloti a conclusão da obra e ali instalou a administração governamental, como fora o objetivo de Araújo Lima. O governador buscou corrigir algumas falhas técnicas, mas passou os serviços para o sucessor, Jesus Burlamaqui.

A escritora Yêdda Borzacov narra um fato jocoso: seu pai, o médico Ary Tupinambá Pena Pinheiro dirigia o Hospital São José, quando um servidor sem contrato de trabalho conhecido por Gilberto Morcego, incumbido da função de porteiro, barrou Petrônio. “Não é hora de visita” – disse ao governador, que depois o contratou efetivamente.

O 5º governador, que teve seu nome dado a uma escola na Rua Alexandre Guimarães, bairro Nova Porto Velho, na Capital, morreu no Rio de Janeiro em 1977.

 EMOÇÃO, FÉ POPULAR E DECRETO ESQUECIDO

 Ó! Virgem Mãe Amorosa
Fonte de Amor e de Fé
Dai-nos a benção bondosa
Senhora de Nazaré…

Ainda, conforme lembrança de Yêdda, a devoção a Nossa Senhora da Nazaré em Rondônia data de 1931, quando diversas famílias paraenses foram trazidas para cá pelo primeiro diretor brasileiro da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, o paraense-bragantino, Aluízio Pinheiro Ferreira.

Notícia [em destaque] no jornal A Noite, do Rio de Janeiro

“Eram os Silveira Brito, os Pinheiro Ferreira, os Borralho de Medeiros, os Penna Pinheiro, os Laudelino de Almeida, os Oliveirinha, os Teixeirinha, os Souza Cordeiro, os Ferreirinha, os Caladrini Pinheiro, dentre muitos outros que, irmanados na mesma devoção e liderados por Aluízio Ferreira, que introduziram o culto à milagrosa Virgem, homenageando-a com o Círio, tradição de fé e o transbordamento religioso do paraense, passando inclusive, essa devoção, para as outras colônias aqui radicadas, de amazonenses, cearenses, piauienses, maranhenses etc”, conta.

No entanto, faltavam os desiludidos e falecidos ao Círio, culto religioso que igualava socialmente pobres e ricos, burgueses e operários. Segundo a escritora, quando Petrônio assumiu o cargo de governador, a devoção do povo por Nossa Senhora de Nazaré emocionou-o.

E assim, Petrônio assinou o Decreto nº 18 de 5 de abril de 1951, considerando monumentos do Território a imagem de sua Padroeira, Nossa Senhora de Nazaré e a Catedral de Porto Velho”.

Os frutos desse decreto contemplaram as famílias cristãs, em demonstração de fé, solidariedade, fraternidade e determinação. “Após o Círio havia novena na Catedral, e finda a reza o povo se dispersava para a diversão na quermesse”, lembra Yêdda.

Eram quermesses tradicionais com barraquinhas no largo onde eram comercializadas bebidas e comidas típicas havia também, jogos de diversão e footing [passeio] dos jovens na praça.

A escritora lamenta a mudança dos tempos e dos costumes: “Poucas pessoas sabem atualmente que Nossa Senhora de Nazaré é a Padroeira dos rondonienses e que no segundo domingo de outubro é realizado o Círio”.

ORIGEM DOS BARCELOS

O tronco familiar é gaúcho, mas a ascendência é portuguesa. O sobrenome Barcelos é considerado de origem toponímica, ou seja, com o nome dado através de alguma região – explica um blog na internet.

“Sua origem geográfica vem do pré-romano Barcela, que significa pequeno terreno comunal próximo ao rio que o inunda com frequência. O que provavelmente acontece nesses casos é que indivíduo que deu origem a essa linhagem residia próximo ou em uma Barcela. A partir daí os seus descendentes e outros residentes do lugar passaram a adotar o sobrenome Barcelos”.

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Fonte
Texto: Montezuma Cruz
Fotos: Arquivos Sejucel e Anísio Gorayeb
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Categorias
Governo, Rondônia, Sociedade


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