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23/12/2024

Restabelecimento

Moradores e comerciantes do Cai N’Água começam limpeza no bairro

06 de maio de 2014 | Governo do Estado de Rondônia

IMG_0067Ainda vai levar um tempo para a vida no bairro Cai n’Água, (Baixa da União), às margens do Rio Madeira no Centro de Porto Velho,  voltar ao normal.   Alguns comércios de áreas liberadas nas ruas João Alfredo e Madeira Mamoré iniciaram a limpeza dos estabelecimentos.

O trabalho é árduo e para alguns parece que não tem fim. Há duas semanas os empregados de um açougue no bairro fazem a limpeza do local. As águas destruíram tudo, dizem os trabalhadores que mostram as câmaras frigoríficas, moedores de carne e cortadores de ossos que já não valem nada. Em um canto, um monte de fios prova que a rede elétrica teve que ser totalmente substituída. Na equipe tem o Flávio, a Alcirene, o Gladson e  a Lica. Eles dizem que não podem parar para conversar, porque ainda têm muito trabalho a executar.  No interior do açougue já está tudo limpo. “Levou muito tempo, mas a gente está conseguindo, no começo parecia que o trabalho não teria fim”, salientou IMG_0070Flávio, o mais falante do grupo. A água chegou a dois metros e vinte, mantendo a marca incontestável nas paredes.

Ao lado, um comércio de ração animal, o trabalho mal acabara de começar. Reginaldo Santos contou que a limpeza começou nesta segunda-feira e ainda assim com precariedade, porque em frente da loja ainda tem água, lama e lixo que precisam ser removidos pelo serviço municipal. Pela manhã, ao iniciar o trabalho de limpeza, o funcionário encontrou filhotes de cobra, de peixes e até caranguejos, estes adultos e filhotes. Para livrá-lo de ataques de animais peçonhentos, apenas uma galocha de borracha.

O primeiro round foi vencido, com a retirada da lama de uma parte do salão. Ainda faltava o fundo, onde até uma canoa se desequilibrou com a força da água e ficou na vertical. Na lateral, muita água e lama e os filhotes de anfíbios. As mercadorias foram todas retiradas a tempo e transferidas para outra loja, próxima ao Mercado Central, o que ajudou a diluir os prejuízos, uma vez que os produtos continuaram em exposição para venda.  Assim como outros, Reginaldo é trabalhador avulso, sem carteira assinada e por isso não teve sequer a possibilidade de sacar o FGTS, apesar de não morar no bairro, ficou impossibilitado de trabalhar.

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Além de trabalhadores para a limpeza, muitos comerciantes tiveram que chamar pedreiros, serventes, eletricistas e carpinteiros para a reconstrução. No Merk 13, o proprietário não foi localizado, mas trabalhadores da construção civil já estavam no local quebrando paredes, assentando tijolos e fazendo as correções necessárias. “O patrão está com pressa”, anunciou de longe um trabalhador.

O prestador de serviços Wilson, classificou a situação do Cai N’Água como um cenário de guerra.  “É muita destruição”. Wilson oferece aos bares da região as máquinas de música. “Nosso produto aqui faz muito sucesso e é a nossa frente mais forte”, salientou.   Nos três meses de paralisação das atividades no Cai N’Água, o empreendedor acredita que deixou de faturar pelo menos uns dez mil reais. Pelo que viu no local, Wilson acredita que ainda será necessário um longo tempo para a rotina ser retomada no lugar. “A destruição foi grande e há muita coisa para ser feita”.

Darci conta que mora no Cai n’Água há 20 anos. Além de moradora, é também comerciante e lamenta que ela e seus vizinhos tenham passado por tal situação. A casa foi invadida pelas águas e logo teve que deixar o local para ficar em casa de familiares e amigos. O comércio também teve que cerrar as portas. “Ainda vai levar uns dias para reabrir o comércio, mas já posso voltar para casa”, comemorava nesta segunda-feira (05). Alertada pela frequência das chuvas e pela Defesa Civil, Darci deixou o imóvel, mas antes transferiu seus móveis e utensílios para o estabelecimento de uma vizinha, cujo imóvel tem dois pavimentos. O sobrado também ficou sem os proprietários e os objetos da comerciante foram todos roubados. Ao registrar na Delegacia foi questionada pelo servidor se o roubo fora feito de caminhão. “Eu disse a ele, não doutor, foi de canoa mesmo”. Segundo ela, levaram tudo que foi possível.

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Para que a rotina volte mais rapidamente ao bairro moradores como Darci e comerciantes fazem apelos às autoridades municipais para que retomem a limpeza o mais rápido possível. “Se as ruas estiverem limpas, fica mais fácil chegarmos às nossas casas e comércios”, salientou Darci.

Em ruas onde a lama ainda não foi removida, mas ganhou uma certa consistência,  transeuntes e curiosos passam pra lá e pra cá, mas o perigo de um atolamento repentino está  sempre presente. “Daqui a pouco vai ter um atolado aqui”, alertava um passageiro do Barco Marco Polo III, que já recebia passageiros para levar até ao distrito de Calama no dia seguinte. O barco voltou a atracar nas proximidades da beira do rio e faz suas viagens. Segundo um membro da tripulação, tem muita gente tentando voltar pra casa.

limpezaDona Maria do Rosário e Franciele Araújo são de Terra Caída, localizada abaixo de São Carlos, um outro  distrito ribeirinho. Elas foram à beira do rio para constatar que a situação delas não é um privilégio, uma vez que Terra Caída foi completamente destruída pelas águas, como classificou a senhora. “Dá muita tristeza ver tudo isso que aconteceu”, lamentou a mulher que perdeu toda a roça de banana e o canavial. Para fugir das águas foi abrigada pela Defesa Civil em barracas em uma localidade próxima à Terra Caída conhecida como Cavalcante. “Lá é mais alto e a água não chegou”. Segundo ela, ainda não sabe o que vai acontecer, “acho muito difícil a gente voltar para Terra Caída, porque não tem mais nada lá”.  Mas ela sabe que a decisão final vai ser do Corpo de Bombeiros. “Já fomos avisados que os Bombeiros é que vão dizer se será possível voltar a morar lá ou não”.

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“Primeiro, a gente tem que ter o maior cuidado para saber onde pisa aqui, porque senão afunda mesmo nessa lama”. Era essa a preocupação de  Franciele, que há dois anos trocou Terra Caída por Porto Velho, mas deixou lá parentes e bens. Segundo ela, Porto Velho e os portovelhenses jamais poderiam imaginar que teriam  um centenário tão triste, referindo-se aos 100 anos que a capital completará em outubro.

Dona Lúcia Oliveira mora no Novo Engenho Velho, uma vila localizada na outra margem do rio Madeira, sua casa está a cerca de 300 metros do rio, mas não foi atingida, por ficar em uma parte alta. “O Cai n’Água é o meu caminho de casa, passo aqui todas as vezes que preciso vir à cidade”. Acompanhada pelo filho Natanael, ele expõe teoria sobre a cheia: “acho que a usina foi construída muito perto da cidade e isso ajudou muito pra que a tragédia acontecesse”.


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Fonte
Texto: Alice Thomaz
Fotos: Marcos Freire
Secom - Governo de Rondônia

Categorias
Governo, Rondônia, Saneamento, Sociedade


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