EDUCAÇÃO E SEGURANÇA
25 de agosto de 2017 | Governo do Estado de Rondônia
A Patrulha Escolar é pequena, segue recebendo pedidos diários, extrapola suas funções e aceita voluntários. Na semana passada, por exemplo, socorreu no bairro Cascalheira (zona leste) uma mãe desempregada que cria dois filhos, de cinco e sete anos. O menino de sete tem microcefalia.
“Ela não consegue arranjar emprego, porque tem que cuidar desse filho; arranjamos cadeira de roda, cadeira de banho e cesta básica para a família”, contou quinta-feira (24) o coordenador do Núcleo de Polícia Comunitária do 1º Batalhão da Polícia Militar, subtenente PM Raimundo Nascimento.
“Se a gente não pode fazer isso na condição de policial, faz como ser humano”, ele comentou.
Na manhã de quinta-feira, por exemplo, avaliou-se o quanto a Patrulha é imprescindível: às 9h, uma representante da Escola Municipal de Ensino Fundamental Broto do Açaí (bairro Conceição) entregava na sede do Núcleo, um ofício pedindo apoio para o Festival Folclórico, das 18h às 22h, no próximo dia 31.
Vinte minutos depois, no mesmo bairro Cohab Floresta II (zona sul de Porto Velho), em sua sala, na Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Vicente Salazar, a diretora Marlene Rodrigues desabafava: “Não tire o cabo Macedo daqui, e se for possível, precisamos dele no turno da tarde também”.
Marlene se dirigia ao subtenente Nascimento, que a visitava. “A presença da PM aqui melhorou o nosso trabalho, tem realmente um diferencial, e mais voluntários tivéssemos, tudo seria melhor ainda”, apelou Marlene.
A Hora Cívica ministrada pelo cabo Wilson Oliveira Macedo impede situações de ociosidade, quando ocorrem faltas de professores. No entanto, já se tornaram rotineiras. “Daqui a 20 anos você se lembrarão que participaram deste momento cívico”, ele diz durante a ordem unida [conjunto harmonioso, cadenciado e equilibrado dos movimentos de marcha].
A Escola Vicente Salazar é bem visível a quem passa pela rua Jerônimo Santana nº 2940. No lugar de muro, grades de ferro permitem acompanhar o movimento dentro e fora.
Segundo a vice Priscília Lima de Mendonça, os 654 alunos são distribuídos em seis turmas de séries iniciais, cinco turmas de 8º e 9º anos. No período da tarde há sete turmas de 6º ano e quatro de 7º.
O apoio policial resgata valores comuns nas escolas das décadas de 1960 e 1970, quando eram frequentes o canto, a declamação de poesias e as brincadeiras. “Vocês chegaram exatamente no tempo em que situações de indisciplina se sobrepõem à antiga disciplina; felizmente, aqui ensinamos, com a preocupação de aproximar famílias”, comentou Marlene satisfeita.
Diariamente, às 7h, perfiladas em frente às bandeiras, as crianças cantam os hinos nacional e de Rondônia, entram e saem de forma. No entanto, o cabo que dedica meio período do dia à missão de disciplinar alunos guarda alguns dissabores. Na Escola Capitão Claudio, um menino bateu no colega e agrediu outros. Quando o próprio cabo foi xingado, a mãe foi chamada ao estabelecimento.
“Ela foi, mas ficou muito brava, alegando que tinha compromisso naquele horário, e o pior: disse que o menino era daquele jeito mesmo. Aí, tivemos dificuldade de tocar o projeto”, contou.
Criado na Cohab Floresta, Macedo se sente bem na atual missão. “No dia em que eu for promovido, vou ter saudades”, disse.
LIVRO E VIOLÃO
Cabo Venâncio, que passou a infância no bairro Mato Grosso, também dirige algumas palavras à juventude, lembrando que no tempo de aluno ganhava vale-transporte para ir fazer provas na Escola Barão do Rio Branco. “O estudo nos leva a qualquer lugar; o amigo é o livro, leiam”, ele apelou.
Numa sala da sede da polícia comunitária situada na esquina das ruas Carambola e Angico, ao lado de uma pracinha, 18 violões da sala de música são fruto de doações.
Duas turmas com 45 alunos estudam ali: uma, às segundas e quintas-feiras, das 17h30 às 18h30, outra, às terças e quintas, das 7h30 às 18h30 e das 19h30 às 20h30, com o sargento Jeremias e os professores Cândido, Leandro e Welington.
As carteiras vieram da Escola Daniel Neri da Silva (bairro JK), os violões foram doados pela Federação do Comércio e por pessoas da comunidade. “No violão, eles se aproximam do policial e quebram barreiras”, comentou o subtenente Nascimento.
HORA CÍVICA E REDAÇÃO
Atualmente, três escolas da zona sul ganham a ronda da Patrulha Escolas. Três policiais recebem os alunos na porta, e a partir daí passam a se conhecer.
Na Escola Bela Vista, no bairro Conceição, os policiais fazem Hora Cívica às segundas, quartas e sextas-feiras, e na Escola Vicente Salazar, às terças e quintas.
Além dessa programação, o sargento Dirani dá aulas de handebol para 38 alunos na zona sul, enquanto o sargento Viana supervisiona essa modalidade esportiva no bairro Nacional (zona norte).
“Avançamos, hoje temos chefes de turma que apresentam seus colegas aos professores e visitantes”, disse o subtenente Nascimento.
Com o projeto “Trânsito nas escolas”, os sargentos Mauro Sérgio e Nelson fazem palestras e já recolheram redações sobre o tema nas Escolas Carmela Dutra, Capitão Claudio, Estudo e Trabalho, Hélio Botelho, Saul Bennesby, Sebastiana de Oliveira, Tancredo Neves e Vicente Salazar. Os alunos vencedores serão premiados em outubro próximo com notebooks, relógios e outros equipamentos.
CRACK, DESAFIO PERMANENTE
Na periferia da capital, o consumo de crack também leva problemas à Patrulha Escolar. “É o nosso grande calo, atualmente, o maior flagelo”, contou o subtenente.
O cabo Reis visitou em casa uma usuária, cujo filho de 13 anos precisava da assinatura para viajar a Ji-Paraná e participar dos Jogos Estudantis de Rondônia. “Ele é aluno da Escola Governador Jesus Burlamaqui Hosannah e se sagrou campeão de judô”. Não fosse o cabo obter a assinatura da mulher, o garoto não teria essa oportunidade.
No cotidiano, os PMs se deparam com situações em que o dependente consome entre 60 e 90 pedras por dia. “Não se alimenta, definha, acaba a pessoa, muito triste”, lamentou.
Enquanto fala dos projetos, da necessidade de voluntários e mais apoio para levar projetos a outras escolas, ele expõe armas e objetos usados por dependentes químicos e recentemente apreendidos. São cachimbos feitos com isqueiros usados, chunchos [arma branca artesanal, colírios, dichavadores [trituradores de tabaco e maconha] e narguilés caseiros.
Crianças e jovens que não se deixam aprisionar pelas drogas também têm oportunidade se inscrever e frequentar aulas de judô na Escola Jesus Hosanah.
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Fonte
Texto: Montezuma Cruz
Fotos: Esio Mendes
Secom - Governo de Rondônia
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