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23/11/2024

CASAMENTO COMUNITÁRIO

Cerimônia celebra a união de 32 reeducandos no Presídio 603 em Porto Velho

08 de agosto de 2019 | Governo do Estado de Rondônia

Juiz de Paz César Castro aos homens: “Deem exemplo à sociedade, porque os filhos precisam de bons exemplos”

 

Valeu a pena esperar uma hora na fila à porta do Presídio Jorge Thiago Afonso, para chega ao local da cerimônia. O Núcleo de Assistência Religiosa, integrante da Gerência de Reinserção Social da Secretaria Estadual de Justiça casou quarta-feira (7) à tarde mais 34 reeducandos do sistema prisional de Rondônia.

Cumprindo penas de restrição de liberdade em quatro unidades prisionais de Porto Velho, eles tiveram suas uniões reconhecidas por lei em cerimônia no interior do presídio conhecido por 603, inaugurado dois meses atrás.

Pastora Núbia Amparo conversa com a noiva emocionada

Na organização do evento, a igreja Universal do Reino de Deus contou com o auxílio de outras igrejas, entre as quais, a do Amor Avivado e Fogo e Glória.

“Esta é a primeira vez que eu faço tantos casamentos”, alegrou-se a pastora Núbia Amparo Dias Camacho, capelã e chefe do Núcleo de Assistência Religiosa.

A noiva Damiana chegou perto para informar que trouxe um bolo. Funcionários depositaram sobre os balcões caixas de salgadinhos, brigadeiros, bolos e outras guloseimas.

 QUEM SEGURA AS ALIANÇAS?

A portaria reservou para alguns noivos momentos de ansiedade. Às 14h30, eles e os demais convidados precisaram passar pelo raio X e deixar documentos de identidade.

Cabelos bem arrumados, carregando buquês brancos e coloridos, as que já estavam prontas esperavam impecáveis as que chegaram pouco depois.

“E agora, o que eu faço?” – quis saber Jéferson Bezerra, 34 anos, com a caixinha de alianças nas mãos. Um agente segurou-a, enquanto ele se identificava.

De vestido amarelo claro, Juliana, grávida de sete meses, moradora no Bairro Socialista, entrou com a filha Emanuelle. “Vai ser um menino”, ela adiantou aos repórteres.

Sob olhares de curiosidade dos próprios agentes penitenciários, eles foram passando por grades e portas até chegar ao pátio da festa.

 Uma parte do pátio Polivalente 2 mais parecia salão de beleza. Voluntárias do grupo Universal nos Presídios caprichavam no visual das noivas.  Além do penteado, eles ajeitaram da melhor forma as presilhas, grinaldas e demais ornamentos, elevando realmente a autoestima de cada mulher.

Fazia calor e a maioria delas se abanava. Noivinhos de paletó e noivinhas de vestidinho circulavam entre as cadeiras de plástico brancas.

Expectativa: até chegar à mesa, noivos trocam olhares; alguns choraram

Novamente avistamos Jéferson Bezerra, desta vez acompanhado pelos filhos Juan Pedro, 8, e Jônata Cleiton, 4. Sem muito entender o momento, Jônata chorou um pouco até ser acalmado pela mãe, a Jucideia Pereira de Souza, 27.

“Com esse corre-corre, hoje ele não foi pra aula, lá no Socialista”, disse o pai.

A noiva Safira Andreína Bramini Ribeiro, 22, faz planos. Disse ter concluído o ensino médio, fez um curso de farmácia e para realizá-los, pretende aguardar a liberdade de Ítallo Bruno de Souza, 21. “Construir uma casa com ele, e cursar a faculdade”, resumiu sem ter ainda escolhido qual área seguirá.

SESSÃO DE FOTOS

Ao lado da equipe de coordenação da Sejus, noivos e parentes passaram pelo cortinado vermelho com espelho entre uma faixa e outra, e em seguida posaram para fotos.

Os convidados, crianças e adultos parentes dos noivos foram se acomodando nas cadeiras brancas. Caroline de Araújo Liberato, do bairro Cidade Nova, saiu na foto ao lado da amiga Pâmela Valesca Guimarães Pereira da Silva, do Residencial Porto Belo IV.

Macsilene Maurício Teixeira, moradora no Residencial Orgulho do Madeira, se aproximou, ouvindo Pâmela comentar que a falta de documentação impediu o casamento de pelo menos dez casais. Eles aguardarão a próxima celebração.

Por alguns instantes, Erisvaldo Borges da Paz e Almiza da Silva Ramos foram confundidos com as pessoas que se casariam minuto depois. No entanto, eram convidados e testemunhas da união de Ronaldo da Paz, irmão dele, com Sandra Guimarães. Todos eles são do Bairro Teixeirão.

Não fosse o teto gradeado, o aspecto do pátio lembrava um pouco o de um salão social onde tradicionalmente são celebrados casamentos no civil.

Maria Lourenço, cearense com vivência no Acre, criou um dos noivos

 AVÓ E SOGRA

Falante, a cearense Maria Lourenço Pedrosa, 86, conta histórias. Não seriam poucas, se houvesse mais tempo para os repórteres a ouvirem.

Avó do noivo Fabiano Pedrosa, 40, nascido em Manaus, a quem criou, estava contente. “Eu sou a sogra dela”, avisou. Damiana Santos Lima Pedrosa, 34, nascida em Lábrea (AM), sorri com o carinho de dona Maria.

Maria Lourenço, três filhos, quatro netos e três bisnetos, moradora no Bairro Lagoinha, veio de Cruzeiro do Sul (AC), onde o saudoso marido Aluízio Carneiro de Souza fora seringueiro até morrer, 20 anos atrás.

“Minha filha Jacimar, mãe dele (Fabiano) mora em Portugal, eu fui passear por lá e também fui à Espanha”, disse referindo-se a viagens feitas a Lisboa e Madri.

“Cheguei lá e minha primeira visita foi à casa de Deus”, lembrando visitas a igrejas.

“OCUPEM SEUS LUGARES”

 Às 15h21, a capela Núbia Amparo anunciou no microfone que a última remessa de convidados já havia entrado.

Cumprimentou a todos e apelou: “Boa tarde! Podem usar as cadeiras; equipe! Vamos ajudá-los a pegar as cadeiras”. Em seguida, convoca pelos nomes os auxiliares João, Aline, Daiane, Maria e Neide.

“Os copos, cadê os copos?”, ela perguntou com voz alta, começando a animar o ambiente: “A noiva espera o noivo, o noivo é Jesus, a noiva é a Igreja, a cabeça é o homem, ta vendo como Deus é top?”.

Minutos depois, a capelã caminhou para uma das duas tendas, onde explicou como seria a entrada dos noivos: “Primeiro os do 603! Depois, o Panda, Ênio Pinheiro, Aruana, 470…o noivo do semi-aberto, pode ir pra ali”

Núbia perguntou das damas de honra. “Fabrício, chame os meninos nessa mesma disposição. Pronto!”. Formada a fila indiana, crianças ajudam as mães com vestidos mais compridos, para não arrastá-los pelo chão.

Ao lado do marigo, Raiane amamentou a filha duas vezes

RAIANE AMAMENTA AILANE

 Às 15h, a noiva Raiane, integrante do primeiro grupo, sentou-se para amamentar a filha Ailane, de sete meses, que depois sorriu para os repórteres.

A mãe Maria Luiz Gonzaga, 57, e o filho Adir, 41, choraram ao abraçar o irmão dele Paulo Marcelo Macedo, 37, que se casou com Darlene.

O juiz de paz César Castro se posicionou a frente dos noivos meia hora depois, dando início à cerimônia anunciada solenemente por um funcionário:

“Boa tarde, eu sou Alan Carlos, do Cartório Carvajal” e foi chamando nominalmente a todos, explicando que eles optaram pela comunhão parcial de bens.

Passava das 15h40, quando os noivos deram passos até a mesa ao som suave da música da cantora Juliana Vitória.

A cada nome soletrado, seguiu-se a assinatura das certidões. Ato contínuo, os noivos faziam meia volta sobre o tapete vermelho, acompanhados por noivinhos e damas de honra.

“A paz de Deus”, disse o juiz. “Comunicamos todos que na forma da lei, toda a documentação está normal, agora eu espero ouvir dos noivos um sim ao aceitarem suas esposas”, emendou.

“Simmm” eles dizem em voz alta. “E as vossas esposas?” perguntou o juiz. Ouviu-se um “simmmmm” ainda mais demorado e forte.

Raiane voltou a amamentar Ailane, talvez a única bebê em Porto Velho que mamou duas vezes durante o próprio casamento da mãe.

“Nas mãos de vocês, uma nova família chega à sociedade; deem exemplo a essa sociedade, porque os filhos precisam de bons exemplos” prosseguiu Castro.

 

“A vida tem aflições, todos sabemos, mas também tem vitórias, por isso, o casamento sagrado e abençoado é para sempre; família é bênção” – disse o juiz.

 

“Casamento não é mordomia, não é dinheiro, é amor. O tempo é do Senhor. Leiam o primeiro salmo. Um dia vocês sairão daqui, sejam obedientes, porque lá na frente colherão o fruto deste dia abençoado por Deus” encerrou o juiz.

Em pé, os noivos colocaram as alianças. Perto da mesa, Francisco Fábio Batista da Silva, 31, segura o filho Alyfer Christian, de dez meses, logo depois que a mãe Stéfani Horrana Rodrigues dos Santos o amamentou. Ela mora na Cohab Floresta.

No encerramento da cerimônia, a pastora Franciele cantou duas canções, iniciando pela que mais emocionou noivos: “Que bom que você chegou”, de Bruna Karla. Trecho:

Você foi como um dilúvio de amor
Arrancando do meu peito uma dor
E no lugar daquela cicatriz marcou
As cenas lindas que o tempo já notou
Você é minha tempestade do bem
Trazendo chuva ao meu deserto
Me fazendo alguém
Amada simplesmente pelo que é
Ontem namorada, noiva, e agora sua mulher

 

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Fonte
Texto: Montezuma Cruz
Fotos: Ésio Mendes
Secom - Governo de Rondônia

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